"Sempre analise aspectos tangíveis e intangíveis antes de mudar de emprego”
Recebi algumas consultas recentes sobre a questão de mudança de emprego. Com a situação atual de crescimento do país e do chamado “apagão” de talentos, muitos profissionais têm recebido propostas frequentes de mudança de emprego. Um ex-aluno recebeu, somente este ano, três propostas. Estes momentos costumam ser bem difíceis. Dá uma dúvida danada. Ficar onde está ou partir para um novo e desconhecido desafio? O que deve ser analisado antes de decidir?
Estas situações no mundo atual são e continuarão sendo bastante frequentes. A geração que nasceu na primeira metade do século passado (nossos pais e avós) costumava ficar na mesma empresa por décadas, até se aposentarem. Hoje, uma pessoa de 30 anos pode já ter passado por mais de 4 empresas. O mundo atual é muito dinâmico e cheio de oportunidades. A fidelidade às empresas desapareceu do mapa. Todos querem crescer. E se uma empresa esgota as suas propostas de novos projetos, as pessoas mais ambiciosas se mandam. Eu mesmo fiz isso sete vezes em 18 anos de carreira.
Mas o ponto importante e que quero tratar hoje é sobre o processo decisório. O que deve ser analisado antes de se aceitar ou não uma nova proposta de trabalho? Na minha visão, este processo deve contemplar dois aspectos: o tangível e o intangível.
O aspecto tangível diz respeito às questões de remuneração. Embora todos saibam fazer cálculos e entendam que um salário de R$ 3.000,00 é maior do que um salário de R$ 2.500,00, muitos cometem um erro básico nessa questão e olham apenas para o salário no final do mês. Sempre recomendo que a comparação salarial do que se tem hoje e do eventual novo salário deve ser feita com base anual e considerando tudo e não apenas o salário direto. Para comparar propostas, você deve somar o salário anual fixo, o salário anual variável (comissões, participação nos lucros ou resultados etc), os benefícios (plano de saúde, auxílio transporte e outros auxílios). Busque levantar a média dos seus últimos 3 anos e tenha em mãos o que realmente você ganhou, seja direta ou indiretamente (por exemplo, o que deixou de gastar). Se você tem um plano de saúde na empresa atual e não terá na próxima, terá que pagar do seu bolso. Outro ponto importante, quando há mudança de cidade, é analisar os custos que você teria na nova cidade (aluguel, escola dos filhos, lazer etc). Um aumento (mesmo que de 30%) de salário pode ser comido por aumento de gastos facilmente.
Na parte intangível (na minha visão, a mais importante), você deve analisar outras várias coisas. Primeiro e mais importante, as oportunidades de crescimentonesta nova empresa. Um passo para trás (ou para o lado) hoje pode representar cinco passos à frente daqui há um ano. Eu já mudei de empresa para ganhar (anualmente) 30% a menos e não me arrependi. As oportunidades que vieram logo depois me fizeram crescer muito mais. Em segundo lugar, você deve tentar levantar o máximo de informações que puder sobre o clima de trabalho nesta nova empresa. Qual é a sua cultura, como são as pessoas com quem você vai trabalhar e qual é o nível de satisfação de quem está lá. Aliado a isso, procure também analisar o setor em que esta nova empresa se encontra. O setor cresce ou está em crise? A empresa está saudável ou em dificuldades? O cargo que estão lhe propondo existe há muito tempo ou foi criado agora? Quais serão as suas principais responsabilidades e desafios? Tudo junto mostrará o nível de risco e o cenário que você vai encontrar. Eu, por exemplo, morro de medo e aconselho os meus alunos, a analisarem com cautela propostas para ocuparem cargos que acabaram de ser criados e que fogem um pouco da estrutura padrão de uma empresa. Esses cargos “especiais” ou para “projetos especiais” podem representar um risco enorme. Numa primeira reestruturação, esses são os primeiros a dançarem.
Bom, resumidamente esta é a minha dica de como analisar propostas de mudança de emprego. Confie na sua intuição, mas analise com frieza e calma antes de decidir. Boa sorte!