“A coerência é a virtude dos imbecis” (Oscar Wilde)
Oscar Wilde. Que frase infeliz!. Já li muitas atribuídas a este grande dramaturgo e escritor irlandês. Todas muito boas, inteligentes e provocativas. Gosto da maioria delas. Mas esta, eu odeio. Discordo em gênero, número e grau. Até entendo o contexto e a provocação. Em outras palavras, quem analisar de perto a sua biografia, verá que ele quis dizer que a vida tem de ser vivida intensamente, mesmo que tenhamos que fazer algumas bobagens ou sermos incoerentes de vez em quando. Porém, quero analisar friamente a questão, principalmente na sua intersecção com questões ligadas à carreira. E se a palavra coerência merece ou não adjetivos melhores.
A nossa vida é cheia de desafios. Acordamos todo santo dia com diversos “leões” para matar. E estamos nesta guerra diária por motivos muito claros: Recompensas. Sejam elas quais forem, estamos sempre em busca de recompensas. Financeiras, emocionais, espirituais, de status etc. Enfim, tudo é uma questão de “Custo x Benefício”. Investimos tempo, dinheiro e energia em projetos que nos dêem retornos concretos. Até aí, nenhuma novidade. A questão que me vem à cabeça quando penso na palavra coerência é a seguinte: Qual deve ser o tamanho do esforço para cada recompensa que desejo alcançar?. Se quero ser promovido na minha empresa, que quantidade de recursos (tempo, dinheiro e energia) preciso investir?. E se quero se fluente em uma língua? E se quero fazer uma viagem de um mês pela Europa? E se quero encontrar uma pessoa legal para namorar ou casar? E se quero conquistar um prêmio da minha área de atuação? Quanto devo investir?
Se você nasceu em berço de ouro e teve tudo até hoje sem grandes esforços, provavelmente nunca ouviu falar em relação “Custo x Benefício” e deve estar achando este “papo” chatíssimo. Mas se você, assim como eu, teve (e tem) que batalhar por cada coisa que deseja conquistar, chegará rapidamente à conclusão que o esforço deve ser proporcional ao tamanho da recompensa desejada. Nem mais, nem menos. Exatamente na mesma medida. Se quero algo grande, preciso investir muito. Se quero algo pequeno, preciso investir pouco. Tudo tem o seu preço. Coisas boas custam caro. Coisas ruins custam barato. Assim é a vida.
Se este pressuposto for aceito como correto, a coerência, aplicada e este amplo sentido da vida, está intimamente ligada à nossa capacidade de criar o equilíbrio entre a expectativa e a ação. Como está escrito no dicionário Aurélio, “harmonia entre idéias”. Alguém coerente espera na mesma proporção do que faz. Isso vale, se você pensar bem, para tudo. Da carreira aos aspectos pessoais, das finanças aos relacionamentos.
Eu gosto muito de analisar as queixas alheias. Ouço queixas de alunos, colegas, amigos e parentes. Reclamam do chefe, da empresa, do salário, do governo, dois pais, dos filhos, dos namorados, dos maridos, esposas etc. Reclamam que não conseguem atingir alguns objetivos e, muitas vezes, se acham merecedores de algo mais. Acham que não estão tendo tudo o que merecem. É impressionante a convicção de algumas pessoas sobre o seu nível de merecimento. Como se a vida estivesse sempre em débito com eles.
Entretanto, quando sento para analisar um caso com mais profundidade, chego à conclusão, invariavelmente, que a pessoa quer fazer um omelete sem quebrar os ovos. Esta lacuna entre o que se espera e o que se faz é, na minha visão, pura falta de coerência. Expectativa alta e atitude mediana.
Creio que todos, em maior ou menor grau, já passaram por isso. Também já me vi neste poço algumas vezes. Mas aprendi, com alguns tombos e algumas decepções, que ser coerente e alinhar a expectativa à ação é o melhor caminho para fazer bons investimentos, colher bons frutos e enxergar melhor as relações de causa e efeito. Nem sempre conseguiremos tudo, mas quando o investimento é proporcional ao desejo, os fracassos são mais raros e normalmente ligados a fatores alheios.
Sendo assim, Oscar Wilde que me perdoe, mas tenho uma frase melhor do que a dele. “Coerência é uma das virtudes dos inteligentes”. Coerência deveria ser tema estudado na escola. Deveria ser pauta de reunião entre pais e filhos, professores e alunos. Coerência é tudo.