Artigo 60 – Esquecer coisas ruins

por Marcelo Veras | 01 de jun de 2012

"Com a vingança, o homem iguala-se ao inimigo. Sem ela, supera-o"(Francis Bacon)

Muitas pessoas acreditam que pensamentos negativos atraem coisas ruins. E isso deve ser verdade mesmo. Energia ruim deve atrair mesmo coisas ruins. Não é improvável, embora não existam provas científicas. Na dúvida, Não custa nada evitar o risco.

Recentemente, estava conversando com um amigo sobre casos em que pessoas que passaram por grandes decepções perderam muito tempo de suas vidas cultivando a raiva, o rancor e mágoas. Em alguns deles, mas drásticos, perderam até muito dinheiro. Isso mesmo. Discutíamos um caso de um executivo que, ao sair demitido de uma empresa, de tanta raiva, criou uma empresa concorrente. E perdeu muito dinheiro, até quebrar. A motivação cevada pela raiva, fazendo alguém abrir um negócio que não queria, só para se vingar. Que loucura! Um extremo não tão incomum. Alimentar e cultivar raiva de quem nos fez mal é algo difícil de ser ver livre. Para alguns, impossível.

Sentir-se traído, enganado ou desvalorizado é, de fato, algo horrível. Para quem é o do time do bem e procura sempre fazer as coisas certas, dói como uma agulha sendo enfiada no olho. Não que eu saiba exatamente o que deve ser isso, mas bem que imagino que doa pra caramba. Capacidade de perdoar (de verdade) é uma qualidade que o cara lá de cima deu a poucos. Isso bem que podia ter sido mais democratizado, pelo menos um pouco mais do que a falta de caráter. O mundo seria um pouquinho melhor do é.

Na vida profissional, este sentimento de mágoa, rancor ou ódio, é uma âncora. Se na vida pessoal isso destrói muita coisa e nos impede de seguir em frente, na profissional é uma dinamite. As empresas não têm ideia da quantidade de tempo, energia e dinheiro podem perder por causa de intrigas e guerras frias que ela abriga entre as suas paredes refrigeradas. Conflitos, explícitos ou velados, que existem no ambiente de trabalho, fazem com que algumas pessoas dediquem mais tempo a destruir ou se vingar de seus opositores do que a produzir para a empresa e para sua equipe.

Por sinal, não me surpreenderia nem um pouco se alguma pesquisa mostrasse que 20% do tempo das pessoas nas empresas é usado para “guerras frias” entre pares, superiores e subordinados. E isso acontece por uma única razão: Nós somos todos péssimos na arte de perdoar e ótimos na de condenar. Ninguém é santo e todos erram. Até temos consciência disso. Mas quando o assunto é perdão, ficamos cegos. Muita gente, inclusive, costuma condenar facilmente os demais por coisas que faz ou já fez. Em outras palavras, julga a si próprio com critérios bem diferentes dos que usa para julgar outros.

E quer saber, caro leitor, eu não tenho a menor ideia de como mudar isso. Não tenho mesmo. A única coisa que vejo como algo que possa atenuar essa prática negativa é uma memória ruim. Isso mesmo: cada um precisa desenvolver uma útil capacidade de esquecer. O esquecimento é, na minha visão, o único caminho. Se perdoar não é possível, vamos esquecer. Se houvesse uma cirurgia, mesmo que com anestesia geral, de lobotomia, acho que seria muito apreciada hoje em dia.

Se alguém lhe fez mal, lhe traiu, lhe enganou, seja na vida pessoal ou na profissional, faça de tudo para esquecer. E rápido. Cultivar sentimentos ruins vai lhe travar ou, pior, lhe jogar mais para baixo ainda. Não deixe isso acontecer. A vida segue. Novas alegrias estão por vir. Cada um vai ter, no final, o que merece. Não vale à pena deixar as coisas boas que estão por vir serem contaminadas por experiências passadas ruins. Vamos pra frente, porque, como diz o grande poeta hermano, Jorge Luís Borges “É no esquecimento que se igualam a vingança e o perdão”.

por Marcelo Veras
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