"O erro é um ingrediente do sucesso”
Perfeição em tudo. Algo que não existe, mas que todos buscam. Ninguém gosta de errar. Nem eu. Dá uma sensação ruim. Um gosto amargo na boca. Sei bem o que é porque já errei muitas vezes, na carreira e na vida. Mas o erro é algo fora da pauta. Fora da pauta na educação formal e na educação familiar, pelo menos numa imensa maioria dos casos. Pais, professores e chefes gostam de falar de acertos. Quando o assunto é erro, muitos se esquivam. Quando falam de si, então, nem se fala! São perfeitos, fazem e acontecem, nunca cometeram erros graves.
É engraçado como o mito da perfeição vende. Deve haver milhões de pessoas que acreditam na perfeição dos chamados “gênios”. Pessoas de sucesso, independente da sua área de atuação, gozam de uma imagem de que nunca erraram e nunca levaram um tombinho sequer. Será? Com certeza, afirmo com certeza, que não. Não existe sucesso trilhado por estrada sempre plana e perfeita. Quem acredita nisso, está se cobrando demais e tornando esta jornada impossível. Tenho muitos amigos bem sucedidos. Muitos ex-alunos bem sucedidos. A todos, sempre que tenho a oportunidade, pergunto sobre seus erros. A resposta é sempre um misto de tabu e sinceridade. Mas, no fim, todos afirmam, sem grandes dores, que erraram e cresceram muito com seus erros.
O erro faz parte da vida, como um papel em branco faz parte de um belo texto, como um quadro em branco faz parte de uma grande pintura. Em outras palavras, o erro é um ingrediente do sucesso. Com os erros, aperfeiçoamos a técnica, as atitudes e os feitos. Sem erros não há crescimento. Sem erros, a vida é uma grande chatice. Que graça tem nunca ter errado? Que graça tem a vida sem você poder contar e rir dos seus erros no futuro? Quem diz que nunca cometeu um grande erro devia nascer de novo, mais inteligente.
Nas empresas isso é mais complexo ainda. Se na vida real as pessoas fogem do tema, imagine em um ambiente onde a sua competência está sendo testada a cada minuto. Assumir erros ou correr riscos que possam levar ao erro exige um ambiente autêntico, sem hipocrisia e orientado para o crescimento mútuo. E isso é raro hoje em dia. O que se vê é o contrário, normalmente fomentado pelos líderes das equipes e das empresas. Pessoas que não percebem esta visão boa do erro e ficam o tempo todo tentanto se vender como perfeitos. Coisa que não são, nunca foram e nunca serão. O que isso gera na equipe? Um belo de um pacto de mediocridade. Como ninguém quer pagar o mico de ser o primeiro “não perfeito”, todos ficam no feijão com arroz (ruim) e a empresa anda e cresce na velocidade de um elefante.
Não estou aqui fazendo nenhuma apologia ao erro. O que estou dizendo é que ele é um ingrediente do sucesso. E como todo ingrediente de um prato, deve estar na receita deste e na dose correta. Acreditar que uma equipe vai crescer, uma empresa vai crescer ou sair de uma crise, ou um relacionamento vai se desenvolver somente com acertos é um grande equívoco. O que se deve buscar sempre é uma profunda reflexão sobre os erros cometidos e um cuidado cirúrgico para não cometê-los de novo. Em outras palavras, temos o direito de cometer novos erros, mas não o de repeti-los.
É isso. Se você é líder, empresário(a), treinador(a), pai, namorado(a) etc, procure tratar deste tema com menos pudor e menos medo. Não há razão para isso. É miopia das grandes não discutir isso abertamente com os seus. Não deixe as pessoas entrarem neste pacto de mediocridade por medo de errar. Não esconda seus erros. Não queira parecer perfeito. Ninguém vai acreditar.
Bons erros para você! E como diz a música do Kid Abelha, “...Vou errando enquanto o tempo me deixar...”. Até o próximo.