"Panela velha faz muita comida boa”
Nunca vi nenhuma pesquisa, formal ou informal, que mostre qualquer tipo de associação entre idade e competência, idade e comprometimento ou idade e desempenho intelectual. Ou seja, todos os atributos, positivos ou negativos, que podem ser associados a um profissional independem da idade. Entretanto existe uma “verdade” generalizada no mundo empresarial que associa pessoas mais velhas a alguns atributos não desejados atualmente, tais como vícios, falta de flexibilidade, desmotivação e coisas do gênero. Isso, disseminado de forma irresponsável por profissionais que trabalham com recrutamento e seleção, tem condenado previamente muitas pessoas mais velhas e muito competentes, que poderiam ter oportunidades incríveis no mercado e não têm. Por outro lado, empresas têm perdido, na mesma proporção, a oportunidade de terem em seus quadros pessoas muito experientes e que poderiam alavancar muito seus resultados.
Tenho recebido vários e-mails me questionando por que isso acontece. Por que o mercado tem preconceito com pessoas mais velhas? Por que a maioria das empresas prefere não “arriscar”, sob o pretexto que estas pessoas trazem vícios ruins ou que serão insubordinadas ou isso ou aquilo? Tenho visto muitas empresas cheias (apenas) de pessoas muito jovens e com pouca experiência. Algumas têm orgulho de dizer a idade média da equipe (às vezes inferior a 30 anos), como se competência e comprometimento fossem inversamente proporcional à idade das pessoas.
Há, sem dúvida, um grande equívoco permeando esta questão. E, como sempre tenho defendido aqui, os extremos são, por definição, ruins e burros. O equilíbrio é sempre o caminho mais inteligente e eficaz. Com relação à idade, cada fase da vida traz benefícios e ônus. Os mais jovens trazem o vigor, o sangue nos olhos, a vontade desenfreada, a disposição a (quase) tudo, a conectividade etc. Os mais velhos trazem histórias vividas, serenidade, prudência, repertório, experiência. Estes temperos juntos, como se fossem competências complementares, permitem montar uma equipe mais forte do que separados. Tudo isso misturado e produzindo em harmonia, gera uma equipe e uma empresa mais eficaz. Não tenho dúvidas disso.
Outro ponto que tem sido erroneamente avaliado pelos recrutadores é que estes acreditam que as pessoas mais velhas, por não terem nascido no mundo digital, não pertencendo às gerações modernas (Y, Z, W, @, #, &....), estão fora do mundo e são resistentes à nova ordem mundial. Isso também é um equívoco. Cada dia vejo mais pessoas nascidas antes disso tudo aderirem à teconolgia, às redes sociais, às novoas formas de relacionamento etc. Mesmo as que ainda não o fizeram, já possuem uma visão clara de que o mundo mudou continuará mudando rapidamente. Ou seja, não vejo nada além de fatores positivos em se ter uma equipe eclética e com pessoas mais velhas para equilibrar a visão sobre o mundo e somar com suas experiências anteriores.
Portanto deixo aqui uma opinião e, ao mesmo tempo, um desafio às empresas, aos seus líderes e aos seus recrutadores. Avaliem o perfil da sua equipe em relação à idade da mesma e veja se este “preconceito sem fundamento” não existe na sua empresa ou área. Se existir, pense no assunto e tente se convencer de que você, sua equipe e sua empresa, estão perdendo uma oportunidade de tornar o seu time mais forte, completo e eficaz. Não faz sentido hoje abrir mão de pessoas mais velhas. Por nenhuma razão. Elas são e continuarão sendo cada vez mais ativas, comprometidas, produtivas, eficazes e atualizadas. Elas querem desafios e oportunidades. Algumas não darão certo (mais com várias pessoas mais novas também não dá errado?), mas não será por causa da sua idade e sim por alguma incongruência profisisonal. Pense nisso. Neste século, qualquer tipo de preconceito é um grande erro.