"Por que algo tão simples é tão raro?"
Neste oitavo artigo sobre gestão de pessoas, quero tratar de um ponto importante, mas que – nem por isto – deixa de ser negligenciado por quem lidera equipes. É a velha questão do reconhecimento.
Recentemente, estava tomando um café com um colega e ele me contava que estava bastante desmotivado com o seu chefe atual e, por consequência, com a empresa. Segundo ele, não importava o que viesse a realizar de bom (e até acima do esperado) que tudo era visto como se fosse apenas como uma mera obrigação. Elogios, portanto, eram artigos raros na relação com seu chefe. Não obstante, se um milímetro não corresse bem, as críticas jorravam como águas de catarata (ultimamente, é mais seguro evitar o termo “cachoeira”!) E olha que conheço bem este cara. Um tipo competente, comprometido e altamente eficaz na gestão da sua área, que, inclusive, numa fase difícil pela qual passava a empresa, coordenou uma série de ações importantes para a reversão dos resultados. Sei que está longe do seu feitio vir lamber as feridas e fazer charme de vítima. Se ele está chegando ao limite de reclamar disso, é porque a coisa está grave mesmo.
Embora não tenha uma pesquisa formal sobre o assunto, acredito, pelo que ouço dos meus colegas, alunos e ex-alunos, essa questão é mais corriqueira do que se pensa. Portanto, há mesmo muita gente por aí insatisfeita por falta de reconhecimento sobre o seu trabalho.
Muito se fala e se discute sobre a motivação de pessoas no ambiente profissional. Não é fácil manter uma equipe com a motivação alta o tempo todo. As pessoas têm seus problemas, seus altos e baixos e seus momentos sem inspiração. Ninguém é forte 100% e eficaz o tempo todo. No entanto, não conheço ninguém que não goste de um elogio ou de uma demonstração de reconhecimento por um trabalho bem feito. Com o nível de oferta de mão de obra hoje, é um absurdo que a maioria dos líderes não invista parte do seu tempo nesse quesito do reconhecimento. As gratuitas conclusões de que “cada um não faz mais do que a sua obrigação” e de que “a fila lá fora está grande” são por demais ordinárias, mas – nem por isso - são deveras elementos absolutos e estimulantes. Por outro lado, nunca os empresários e líderes reclamaram tanto da falta de talentos, de pessoas comprometidas e eficazes. Ora, há claramente uma dicotomia nessa questão. Por que será que, se pessoas eficientes não estão sobrando no mercado, os líderes conseguem desmotivar tanto os seus melhores talentos? Isso daria uma bela tese de mestrado.
O que se busca em uma empresa não é somente uma boa remuneração, certa segurança e boas perspectivas de carreira. O ambiente de trabalho também um espaço de reforço da autoestima. Todos nós precisamos nos sentir importantes e valorizados, principalmente perante os que nos cercam. Às vezes, um mero elogio por um trabalho bem feito faz com que uma pessoa até legitime a sua posição de que está no lugar certo e fique menos vulnerável às propostas e seduções do mercado. Se um elogio já tem o poder de jogar a nossa motivação pra cima, um elogio público é uma turbina nesse sentido.
Portanto, recomendo a quem tem uma equipe, mesmo que um único funcionário, que apresente críticas e dê feedback quando necessário, mas que também sejá generoso em elogios quando um trabalho for bem feito. Isso é simples, não custa nada e pode fazer com que a energia do elogiado se volte para fazer cada vez melhor o que já fez bem.