"As empresas precisam aprender com escolas e seus líderes, com professores"
O último dos três pilares que venho tratando sobre atração de talentos é a questão do desenvolvimento pessoal. E aqui usarei mais uma vez um expediente ao qual já recorri em discussões anteriores. Se você leu os dois últimos artigos vai se lembrar que o primeiro pilar era composto por projetos, os quais, na verdade, são espaços criados pela empresa para que os talentos possam ser desafiados e expostos. No segundo pilar – ambiente legal – defendi a tese de que autenticidade e meritocracia formam este conceito chamado “ambiente legal”, um terreno profícuo para atrair pessoas talentosas. O último é o “Desenvolvimento pessoal”! Mas o que compõe este terceiro e último pilar?
Para mim, quem conseguir desenvolver os dois primeiro leva esse de brinde. Isso mesmo! A empresa ou área de uma empresa que consiga ter um ambiente pautado pela autenticidade, pela meritocracia e que tenha um banco de projetos de baixo e médio risco para que possa se impor continuamente desafios aos seus talentos, estará oferecendo, com este pacote, algo que pessoas talentosas mais querem e mais valorizam que é o famoso, festejado e almejado crescimento pessoal. Para essa turma, crescimento pessoal significa novas experiências e horizontes abertos.
O engraçado disso tudo é que esta visão me faz acreditar que, na ótica da gestão de pessoas, as empresas estão precisando se transformar em escolas. E os líderes estão precisando aprender um pouco com os professores. Não que eu, com o meu passado de mais de 15 anos em educação executiva, queira inverter a ordem do dia. Sei muito bem que a regra hoje na maioria das empresas é escolher os melhores do mercado, exigir currículos cada vez mais qualificados, investir o mínimo possível em treinamento e desenvolvimento e cobrar muito, muito resultado. E para quem tiver insatisfeito, a fila lá fora anda, e é quase maior que as do SUS. Sei disso. Convivi com isso. Lei da oferta e da procura.
Mas, quando falamos de talentos, de pessoas que podem fazer uma grande diferença em uma empresa ou em uma área, esse conjunto de práticas não vale. Não vale mesmo! Pessoas talentosas são artigos em falta nas prateleiras do mercado. Não se perde talento! E esses espécimes raros precisam de habitat oportuno para viverem e se reproduzirem, por isso exigem, para entrarem e continuarem em uma empresa, condições de se desenvolverem. E isso passa por ações, por parte da empresa, que ofereçam este espaço e estas oportunidades. Quero deixar claro que não estou falando aqui meramente de pacotes de benefícios envolvendo, por exemplo, educação. Pagar cursos e treinamentos é essencial, mas o ponto que quero abordar é outro. Acho que este chamado desenvolvimento pessoal se dá de forma muito mais efetiva no dia a dia da gestão dos talentos. Pagar um curso por ano não serve para nada se no cotidiano as relações são mornas. Vai faltar pegada! Vai faltar tesão! Com talentosos funciona assim: Ao serem convidados e expostos a novos projetos, eles crescem. Ao serem avaliados e receberem feedback pelos seus resultados concretos, eles crescem. Ao se sentirem tranquilos em relação a poderem ser quem são, eles crescem e se ajustam normalmente aos valores da empresa. Ou seja, é na gestão do dia a dia e não em pacotes corporativos, que está a chave para a atração de talentos.
Portanto, na minha humilde visão de quem observa, conversa e analisa posturas e decisões de pessoas talentosas, concluo que as empresas precisam transformar seus líderes em mestres, em professores, que acima de tudo querem o crescimento de seus liderados. Querem os melhores em suas equipes. Premiam os melhores. Criam projetos para desafiarem os melhores. Criam um ambiente pautado pelo mérito e deixam as pessoas serem que são. Este é o caminho. Pena que muitas empresas não sabem disso , não enxergam isso ou não têm a coragem de demitir péssimos líderes e deixam essa gente afastar os melhores profissionais e ficarem sempre com um time que é a cara do técnico - que é, geralmente, uma cara ruim de dar pena! Pena!