Artigo 52 – Atração de talentos x Ambiente de trabalho

por Marcelo Veras | 05 de abr de 2012

 "Autenticidade e meritocracia. Isso é legal!"

O segundo dos três pilares que estou tratando sobre atração de talentos é a questão do ambiente de trabalho. Na minha síntese sobre os inúmeros relatos que já acumulei de pessoas talentosas sobre o que um empresas deve possuir para atraí-lo (a), um “ambiente legal” é sempre um deles.

A palavra legal, sem conotação jurídica, pode nos remeter a uma série de significados. Desde bacana, gostoso, ou até mesmo solto, desamarrado e sem profissionalismo. Por isso, sempre que ouço uma palavra com tantos sub-adjetivos como esta, faço questão de explorá-la melhor para entender como esta faceta pode ser apresentada.

Neste caso, nas minhas inúmeras conversas com pessoas muito talentosas que conheço e convivo, a palavra “legal” tem dois significados. O primeiro se baseia na tese que um ambiente legal é um ambiente onde as pessoas podem ser quem são. Tão simples, mas tão difícil. Um ambiente onde a hipocrisia impera e onde as pessoas precisam representar, como se estivessem em um palco, é antítese desse primeiro pilar. Há empresas, ou áreas de uma empresa, onde simplesmente as pessoas não podem ser quem são. Ambientes que mais parecem um cenário de gravação. Péssimos atores, todos encenando e mostrando quem não são. Tudo para parecerem mais competentes, mais isso ou mais aquilo. Ambientes como estes, normalmente espantam talentos. Pessoas talentosas não entram nesse jogo e não gostam desse teatro. Pessoas talentosas estão focadas em resultados e não querem perder tempo. Além disso, não admitem serem julgadas ou avaliadas por outras coisas a não ser resultados concretos. Criar um ambiente de elevada autenticidade não é fácil. O engraçado é que a maioria das pessoas gosta desse palco. Muitas usam a empresa para se apresentarem melhor do que realmente são, para cobrir frustrações pessoais ou para tentar esconder o seu lado fraco.

O segundo ponto, e não menos importante, é que o ambiente deveria ser pautado pela meritocracia. Empresas ou departamentos que não possuem um sistema de avaliação de desempenho claro e transparente e que, por sua vez, ao promoverem alguém, deixam dúvidas em relação aos critérios utilizados, estão bem longe de serem ímãs para talentos. De novo, pessoas talentosas querem ser avaliadas por critérios mais cristalinos que o mar de Noronha. E querem o retorno quando entregam resultados acima da média. Portanto, qualquer sinal de falta de meritocracia que uma empresa der, estará dizendo em voz alta para estas pessoas: - Aqui, há critérios extracampo que usamos para premiar as pessoas. Ou seja: - Tchau, talentos!

Note que os dois ingredientes básicos para que um ambiente seja atrativo para pessoas talentosas dependem fortemente das lideranças que comandam áreas nas empresas. E é aqui que reside o principal desafio nessa questão. A maioria das empresas sequer percebem que o problema na atração de talentos reside na postura e na gestão diária das suas próprias lideranças. Não sei dizer quantas vezes já ouvi a frase: "A empresa até é legal, mas o meu chefe me tirou o tesão e saí ". Mais uma vez, como defendi no primeiro artigo dessa série sobre gestão de pessoas, "Empresas não existem. As relações são entre pessoas". Quem vai criar este ambiente atrativo para talentos são as pessoas. Sobretudo, quem comanda áreas e departamentos.

Após levantar estes dois pontos, só nos resta acreditar e concluir uma coisa: trabalhar lideranças é a estratégia correta para que o seu terreno se torne cada vez mais fértil e produtivo. Não adianta criar "políticas corporativas" interessantes se no cotidiano os líderes criam ambientes ruins, fomentam a encenação e a hipocrisia, não são meritocráticos e não criam um clima onde os melhores são reconhecidos e premiados.

Líderes, pensem nisso! Está nas mãos de vocês e de mais ninguém!

por Marcelo Veras
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