Todos os profissionais da saúde são pessoas do bem, certo? Errado. A imensa maioria é, mas há aqueles que agem de modo incorreto dentro da saúde, como, por exemplo, aquele sujeito que se aproveita de uma mulher anestesiada que está submetida a procedimento estético e abusa sexualmente dela. Infelizmente não estou citando um caso hipotético.
Todos os profissionais da segurança pública são pessoas do bem, certo? Errado. Há aqueles que usam informações privilegiadas para servir a bandidos ou, por exemplo, se rendem à propina.
Todos os profissionais da justiça são pessoas do bem, certo? Errado. Há juízes que vendem sentenças, advogados que levam armas para dentro das prisões e promotores que burlam a lei em benefício próprio.
Todos os religiosos são pessoas do bem, certo? Errado. Há padres pedófilos que abusam de crianças mundo afora.
Todos os professores são pessoas do bem, certo? Errado. Há aqueles que abusam sexualmente de alunos e há aqueles que fraudam um concurso de bolsas. Oi? Como assim, fraudar um concurso de bolsas?
Pois é, hoje trago esta provocação a partir de um fato recente que me deixou de queixo caído e que mostra que o mal não respeita fronteiras. Em áreas que surgiram para cultivar o bem, tem sempre gente jogando sementes do mal. É uma minoria, mas tem.
Todos os anos organizamos no IBFE – Instituto Brasileiro de Formação de Educadores – um concurso de bolsas para pós-graduação, no qual várias bolsas integrais e parciais são oferecidas aos melhores colocados. Antes da pandemia, fazíamos de forma fisicamente presencial, nas unidades da escola. Quando chegou a pandemia, decidimos manter e fazer ao vivo e online, usando uma plataforma digital. Nesta plataforma, a questão de múltipla escolha aparece na tela e os participantes têm um tempo para responder. Quando o tempo acaba, aparece a resposta correta na tela e seguimos para a próxima. Além da resposta certa, o tempo de resposta também é um fator de desempate. Portanto quanto mais rápido e corretamente você responde, mais pontos ganha. No final, a plataforma indica os 10 primeiros colocados usando estes dois critérios – acerto e tempo de resposta.
Pois bem, há cerca de duas semanas, 270 educadores participaram da última edição. Ao longo da prova, para nossa surpresa, apareceram no chat alguns comentários denunciando que alguns estavam fraudando o processo, sem explicar bem a acusação. Houve, então, esta denúncia entre os próprios participantes. Isso acendeu uma luz amarela, e a equipe de gestão começou a fazer algumas checagens, descobrindo que alguns dos participantes estavam usando nome e cadastro falsos, que não constavam na lista original. A prova seguiu até fim e mais denúncias foram aparecendo, deixando todos incrédulos.
Ao final, após apuração do sistema, observou-se que 71 “educadores” acessaram o sistema duas vezes, sendo a primeira (com nome e dados falsos) para coletar a resposta correta de cada questão que aparecia durante a prova, e a segunda (com nome e dados corretos) para realizar a prova oficial de forma fraudulenta, acertando 100% das mesmas com tempo médio de resposta por questão de menos de 1 segundo. Olha só até onde chega a “criatividade” de alguns seres humanos para fazer coisa errada.
A decisão, por mais difícil que tenha sido, não poderia ser outra – cancelar o concurso inteiro, até porque os 10 primeiros colocados usaram esta “estratégia”. No mesmo dia, comunicamos a todos e esperamos as pancadas chegarem. Ao contrário, o que recebemos foi uma chuva de acolhimento, nos apoiando na decisão e lamentando que “profissionais da Educação” pudessem ter feito isso.
Pois bem, a provocação de hoje é esta. A maldade e a falta de caráter não têm idade, sexo, religião, nacionalidade ou profissão. Aonde formos, vamos encontrar uma maioria de pessoas do bem e uma minoria que, independente do juramento que fez no dia da formatura, procura atalhos para se dar bem a qualquer custo. Portanto, como sempre defendi aqui, “toda generalização é, por definição, burra”. Não dá para ir às redes sociais e dizer que o mundo está no fim e que não há mais esperança em Educadores, padres, advogados ou em qualquer outra classe. Sim, é de se lamentar, mas não de se generalizar. Felizmente essas pessoas são a minoria, mas envergonham a grande maioria que fazem o que é correto.
Até o próximo!
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