"Não existe água boa em fonte ruim”
Recentemente surgiu uma dor no meu pé. Parecia que algum duente sádico estava se divertindo ao enfiar agulhas bem no peito do meu pé. Fui ao médico. Ele me pediu um exame e disse que, pelos sintomas, provavelmente eu tinha um Neuroma de Morton. Quando voltei com o resultado do exame, eu já tinha pesquisado tudo e mais um pouco sobre o dito cujo. Achei até um vídeo no Youtube com uma cirurgia completa (assisti, mas não indico). Confirmou-se o tal Morton, marcamos a cirurgia e ponto. Coisa simples. Obviamente achei tudo na internet. Os tradicionais buscadores me mostraram páginas e páginas sobre o assunto digitado. Escolhi algumas que achei mais confiáveis, li e pronto. Que pragmático! Esta é a era da informação. Ninguém fica sem, a não ser que deseje ou seja um analfabeto funcional. Basta digitar e apertar o famoso “enter”. Daí é só escolher entre as “1.874” páginas que vão aparecer na tela.
Com certeza, você tem um exemplo parecido para contar. Todo mundo tem alguma situação onde se buscou uma informação e a achou facilmente. Mas o ponto que quero discutir aqui é outro. Até onde devemos ir na busca de informação quando temos que tomar uma decisão importante? Qual é o limite? Qual é o nível de confiabilidade do que está por aí, perdido nos sítios da web, nos livros e até mesmo na boca das pessoas? Será que posso confiar cegamente em qualquer informação que me chega?
Estas questões me chamam a atenção hoje porque tenho visto inúmeros casos de projetos que são defendidos com argumentos tão frágeis quanto as nossas estradas brasileiras. Não foram, na verdade, poucas as defesas que já ouvi embasadas em fontes de procedência bem questionável. É mais ou menos como se dissessem: - Li na net. Portanto é verdade. O mesmo acontece com livros. Algumas pessoas lêem um, assumem que aquilo é a verdade absoluta e usam como uma receita de bolo, principalmente aqueles enlatados horríveis sobre gestão de empresas, pessoas e equipes. É incrível como o excesso de informação tem deixado algumas pessoas menos inteligentes. A perda de senso crítico está generalizada. Quase uma epidemia. Quero lembrar: não há livro, texto, site que não tenha sido redigido por mão humana. E gente se engana, engana, burla e até acerta.
Hoje, com a internet, as redes sociais e os blogs, todo mundo pode escrever sobre o que quiser. As editoras, em geral, perderam um pouco a capacidade de avaliar autores e texto. Qualquer um, hoje, escreve e publica um livro. Esta democratização da opinião tem o seu valor. Não sou contra, de forma alguma. Acho que todos devem poder expressar a sua opinião sobre o que quiserem. A minha briga é com os que perderam a capacidade de analisar, em um “zilhão” de informações, um quilo que seja realmente relevante e que possa ser usado na hora de decidir. Há sempre gente que compra ideias muito rapidamente e decide coisas importantes por isso. E depois ficam se perguntando: onde eu errei? Eu respondo: errou porque não avalia bem suas fontes!
O meu remédio para este mal é um só: Acho que todos devem, antes de sequer ler algo sobre qualquer tema, avaliar a origem. Quem está falando. A sua credibilidade. A sua “autoridade moral” sobre aquele asssunto. No fim, é isso que conta. Informação de qualidade vem de fonte de qualidade. Costumo dizer aos meus alunos que a primeira coisa que deve ser analisada antes de comprar um livro não é o título, a capa, muito menos a posição no ranking das revistas semanais ou na roda de amigos da empresa, mas sim a apresentação do autor. Qual é a sua história. O que fez. O que realizou. Ou se é mais um que quer explicar como fazer algo que nunca conseguiu fazer. Desses, fuja como o diabo foge da cruz.