Entre 2010 e 2019, escrevi semanalmente para alguns jornais e blogs sobre carreira e desenvolvimento de competências. Foram mais de 450 textos e crônicas e uma experiência marcante de compartilhar o máximo do que tinha estudado e aprendido sobre o tema desde 2006. Pouco antes do fim dessa jornada, entre agosto e outubro de 2019 decidi escrever uma série de oito artigos sobre o que eu reputava como "extremismos". Chamei a série de “Caminho do meio”. Em cada um dos textos, tentei mostrar que os extremos, por definição, não se sustentam, e que o caminho do meio talvez seja o melhor caminho para a sustentabilidade. Extremos na política, na religião, na punição de infratores, no estilo de liderança, entre outros. Sempre fui, mesmo que intuitivamente, fã do caminho do meio. Todos eles estão no meu Blog (www.marceloveras.com), na sessão de artigos.
Ainda no ano de 2019, começamos na Inova Business School a nossa jornada na certificação de conselheiros, no “Programa Conselheiro TrendsInnovation”. Como já fiz em outros cursos da escola, fui aluno da 1ª turma, até porque esta é uma carreira que muito interessa no futuro próximo e na qual já coloquei um pé em alguns conselhos Pro Bono. Já na 1ª aula do curso, chamada “Função Conselheiro”, com o brilhante Prof. Paulo Iserhard, aprendemos que conselheiro não é propriedade e nem é gestão, mas sim o elo de ligação entre estes dois stakeholders, e que dá o direcionamento estratégico em alguns pilares, sempre com foco na longevidade. Entendi o tremendo desafio que isso representa para quem teve, como eu, uma longa carreira executiva e que, na maioria das vezes, tinha que bater no peito e tomar algumas decisões arrojadas. Virar essa chave e participar de um órgão no qual as decisões são colegiadas, onde as duas orelhas devem agir mais do que a boca, é, sem dúvidas, um grande desafio. Uma das frases mais famosas sobre a postura de conselheiros é conhecida como: “Nose In, Finger Out”. Ou seja, proximidade no entendimento profundo do negócio e da sua dinâmica de gestão, mas longe, bem longe, da execução.
Como o mercado de startups não para de crescer, este novo segmento tem representado uma grande oportunidade de carreira para conselheiros e conselheiras, obviamente apenas para alguns daqueles que já cruzaram a zona de arrebentação e que enxergam na governança o único caminho para a longevidade. Mas o fato é que há um novo mercado se formando além das milhares de empresas familiares já estabelecidas e que ainda não começaram sua jornada de governança. Para este perfil de empresa, em estágio inicial de jornada e com fortes ambições de crescimento, fica a pergunta: Será que a diretriz “Nose In, Finger Out” vale 100% para conselheiros de startups? Segundo Márcio Teschima (conhecido como Tex), aluno da 1ª turma do nosso curso, mentor, investidor de startups e conselheiro, - NÃO!
Quando o ouvi defender esta tese pela primeira vez, já o convidei para uma entrevista para a minha nova coluna “Pense de novo”. Inspirado no livro “Pense de novo”, do Adam Grant, criei este espaço para entrevistar pessoas sobre temas quentes, polêmicos e que, de certa forma, suscitam reflexões críticas sobre postulações sacramentadas ou "verdades" estabelecidas, mas que podem (ou devem) ser questionadas. No dia 31 de maio de 2022 rolou a entrevista, na qual ele defende e explica uma visão diferente do “Nose In, Finger Out”. O episódio está lá gravado. Caso queira conferir, acesse. https://www.marceloveras.com/videos/.
No último dia 10 de dezembro de 2022, tivemos a última aula da turma 8 do nosso curso. Neste sábado pela manhã, recebemos três feras da governança no Brasil para contar suas experiências, histórias e conversar com os alunos do curso. Emílio Carazzai, Roberto Faldini e Deborah Wright. Nos seus 30 minutos de fala, a Deborah tocou o tema em questão com uma nova e interessante abordagem. Segundo ela, o “Nose In, Finger Out”, após a pandemia, ganhou um novo tempero. A tese é que a pandemia exigiu dos conselheiros e conselheiras uma proximidade maior com a gestão. Não é difícil perceber que isso foi óbvio e necessário. A pandemia trouxe a todos, sem exceção, um nível de insegurança e complexidade na tomada de decisões de gestão que obrigou a alta gestão a buscar ajuda, apoio e mais direcionamento estratégico e tático. A capa de super-herói desapareceu e todos nós enxergamos, a olhos nus, a nossa vulnerabilidade. E adivinha quem teve que cumprir este papel de maneira bem ativa! Ele mesmo, o conselho! Felizes das empresas que tinham um conselho durante a pandemia. Portanto, segundo a Deborah, a nova diretriz é:
Nose In, Fingers Out, but Elbows In
Quando a ouvi dizer isso aos alunos da turma 8, logo me veio à cabeça a minha série “caminho do meio”. Nem tão perto, nem tão longe, mas próximo o suficiente para que, se precisar da minha mão, ela estará ao alcance do seu braço. Nada mais, nada menos do que um caminho do meio, agora aplicado ao papel de conselheiros e conselheiras.
Isso mostra que, de fato, este momento histórico que vivemos, como Adam Grant trata de maneira brilhante no seu livro “Pense de novo”, nos convida (ou convoca?) a fazer reflexões críticas sobre tudo e, principalmente, sobre o que nos ensinou a escola clássica da gestão. É tempo de desaprender! É tempo de, com prudência, bons argumentos e atenção para o filme que está passando e do que está por vir (futuro e tendências), questionar verdades até então absolutas e construir as novas verdades.