Artigo 442 – Mentiras travestidas de verdade

“Você sabe reconhecer uma falácia? Se não sabe, deveria”
por Marcelo Veras | 21 de out de 2019
Artigo 442 – Mentiras travestidas de verdade

Ando cada vez mais surpreso com as posturas nas redes sociais. E o pior de tudo é que muitos ainda não conseguem enxergar os impactos da sua conduta no mundo digital na sua carreira. É como se ali fosse um território neutro e preservado, onde posso acreditar no que quiser e dizer o que quiser. Não é. Definitivamente, não é. Uma das sementes que mais cresce nas redes sociais são as falácias. Essas são verdadeiras ervas daninhas que são cultivadas nos terrenos digitais da atualidade.

O termo falácia deriva do verbo latino fallere, que significa enganar. Um raciocínio errado que parece verdadeiro. Um argumento equivocado para defender uma ideia ou alegação. Em outras palavras, “uma mentira travestida de verdade”. Reconhecer falácias - às vezes -  é bem difícil, principalmente quando ela atinge um grande número de pessoas que acreditam nela. Quando isso acontece, questionar algo soa quase como loucura. “Como assim? Você não sabe disso? Todos já sabem!”. Já ouviu algo assim?

Eu, pessoalmente, já caí em várias. Já acreditei em muita coisa só porque todos acreditavam também. Demorei muito para virar essa chave, porque simplesmente não é fácil questionar e, muitas vezes, não é fácil encontrar a real verdade. Por isso valorizo e reconheço muito o trabalho de profissionais que “cavam” até acharem a verdade e expor ao mundo. Um deles, que já citei aqui várias vezes, é Adam Grant, que no seu livro “Originais” derruba duas numa tacada só. A de que as Startups mais valiosas do mundo estão sendo criadas por jovens com espinha na cara e a de que “procrastinar” nem sempre é ruim, sendo que o tempo todo somos bombardeados com a “verdade” de temos que ser rápidos em tudo.

Recentemente, no FTI Summit 2019, um evento sobre futuro, tendências e inovação, um outro cara que respeito muito – o Alexandre Pellaes – derrubou mais uma. O Alexandre é um estudioso do mundo do trabalho e palestrante de alto nível. Recentemente, no seu mestrado, descobriu algo que só os curiosos e inteligentes descobrem. Você conhece a “Pirâmide de Maslow”? Aquela que apresenta a hierarquia de necessidades e que diz que o ser humano tem uma hierarquia de necessidades, que começa com as necessidades fisiológicas, depois com as necessidades de segurança, depois social e assim por diante. O mais interessante é que essa pirâmide nos foi vendida com duas falácias. A primeira foi que ela é a “Pirâmide de Maslow”. O Alexandre Pellaes foi atrás e não viu, em nenhum texto de Maslow nada sobre a tal pirâmide. Ele, sim, fala de necessidades, mas nunca no conceito de pirâmide e de hierarquia. A segunda é a própria questão da hierarquia. Nos foi vendido que as pessoas só passam a almejar o nível seguinte depois que o anterior está preenchido. De novo, uma falácia. Se fosse assim, como disse o Alexandre na sua palestra, “um mendigo faminto não precisaria de amor”.

Pois bem, volto com este tema aqui para lhe fazer um convite. Nunca, nunca mesmo, acredite em algo sem antes checar se os argumentos não são falaciosos. Recomendo atenção maior ainda quando tentarem lhe convencer usando termos totalitários, tais como “todos”, “ninguém”, “todo mundo”, entre outros. Saber identificar falácias vai tornar um profissional mais completo e mais bem preparado para o futuro do trabalho. Até o próximo!

por Marcelo Veras
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