“Meu filho, nunca forme um juízo definitivo sobre alguém antes de comer 3 sacas de sal juntos”. Já ouviu essa? Pois é, esse ditado mineiro, que ouvi muito da minha mãe ao longo da vida, nunca foi tão atual. Aliás, já usei aqui “n” vezes, sempre mostrando um ou outro caso onde o tempo mostrou uma verdade diferente da atual. Creio que aprendi a lição. Todos os dias, embora isso seja muito difícil e exija muita concentração, tento não formar juízos precipitados. Já me convenci que o tempo pode nos pregar peças e nos fazer morder a língua, o que, aliás, já fiz várias vezes na vida e tento não repetir. Já elogiei e defendi pessoas que, depois de um tempo, mostraram que não mereciam nem um aperto de mão. Também já critiquei pessoas que, também depois de um tempo, mostraram que mereciam elogios e não críticas.
Os tempos atuais estão repletos de exemplos que compravam a beleza e a verdade desse ditado. Praticamente toda semana tem alguém sendo desmascarado ou exposto. Da academia, com os diplomas falsos, à política, com os grampos de mensagens, ao esporte, com os escândalos sexuais, e não para por aí. Por que a frequência de casos aumentou? Por um único motivo – “as câmeras”. Analise todos os casos onde pessoas perderam (total ou em parte) a sua reputação por causa de mentiras ou mal feitos. Sempre tem uma “câmera” por detrás. Quando digo “câmera”, refiro-me ao sentido figurado do termo. Pode ser uma câmera de fato, um gravador, um rastro na rede que um hacker conseguiu identificar e dar visibilidade. Ou seja, nesse “Big Brother” diário em que todos nós vivemos, não mais para se esconder. A verdade, em algum momento, sempre irá mostrar a sua face (a mentira também!).
Esta dinâmica nos traz algumas reflexões e algumas lições. A principal lição, na minha visão, é que deveríamos eliminar do nosso vocabulário termos que sejam totalitários. Sempre, nunca, jamais, para sempre, entre outros. Não existe mais “nunca” ou “para sempre”. O mundo está girando hoje numa velocidade e numa dinâmica onde a distância entre o céu e o inferno é de 20 centímetros. Heróis de hoje viram bandidos amanhã. Celebridades de hoje viram lixo amanhã. Pessoas respeitadas na academia hoje viram mentirosos e falsos amanhã. Por quê? De novo, por causa das “câmeras” impiedosas que não poupam ninguém e vão atrás de fatos que destruam a narrativa que construiu a celebridade. É como se a roda da fortuna estivesse girando (bem) mais rápido.
Sigo a minha jornada de observador de carreiras e sempre aconselhando os meus alunos a pensarem sobre isso e tomarem uma posição. Procuro não pregar radicalismos, mas neste caso não vejo outra postura saudável e segura senão a de andar na linha. Em todos os sentidos, andar na linha. Respeitar as regras sem concessões, não se apropriar do que não é seu, não mentir (em currículo ou entrevistas), enfim, andar na linha. Se a motivação não for “fazer o que é certo” que seja “não deixar rabos para trás”. Porque algum dia, principalmente se você começar a experimentar o sucesso, alguém vai cavar e tentar achar algo que destrua a sua narrativa e, por consequência, a sua carreira.
Nenhum de nós é 100% santo e, como humanos que somos, cometemos os nossos erros, mas dormir com esse fantasma no guarda-roupas hoje em dia é, no mínimo, inocência.
As lições estão aí, todos os dias. Basta pensar e responder: você acha que está imune às câmeras? Até o próximo!