O título é forte e tem sentido figurado, mas não deixa de carregar uma certa dose de verdade. Este documento, o qual caprichamos tanto e que é o nosso ticket para uma entrevista, está sob fogo cruzado e confesso que não sei se sobreviverá.
Por um lado, os casos de pessoas que dão aquela “exageradinha” ou que mentem descaradamente pipocam todos os dias. Alguns casos mais famosos ganham a mídia e as redes sociais, mas a grande maioria acontece nos bastidores das empresas de recrutamento. Amigos meus que trabalham com recrutamento afirmam que a galera anda pecando feio nas “mentirinhas” no currículo.
Por outro lado, e até mais relevante para mim, está caindo a ficha de que nem sempre pessoas formadas nas melhores escolas possuem o melhor perfil de competências que algumas empresas querem. Os estudos sobre o desbalanço entre competências técnicas e comportamentais não param de mostrar que muitos profissionais são contratados por conhecimentos e demitidos por atitudes.
Em uma reunião recente de um grupo de presidentes do qual participo, fomos a uma empresa de grande porte e grande relevância no mercado. Na sua fala sobre gestão de pessoas, o presidente desta empresa disse claramente que eles estão revendo o seu modelo de contratação. O caso é muito interessante e ele explicava que estava em uma agenda clara e objetiva para redefinir o perfil de profissionais que iria contratar dali para frente. Repito aqui uma de suas falas: “A gente tem cometido um erro de achar que temos que contratar pessoas que estudaram em escolas de renome. Isso é um erro porque, além dos conhecimentos, precisamos ver se há convergência de valores e propósito”.
Bom, se você me acompanha aqui com frequência e já leu incontáveis textos sobre isso, deve imaginar a cara que fiz ao ouvir esse testemunho, não?
Pois bem, há um movimento em curso e nem todos estão percebendo. A formação tradicional, o currículo comum e as competências que foram até hoje valorizadas estão em xeque. O mundo do trabalho percebeu que o que aprendeu e onde se aprendeu (mesmo que seja verdade) tem importância relativa neste momento histórico e no futuro. Empresas já conduzem processos seletivos sem analisar currículos. Outras possuem modelos de contratação que priorizam competências comportamentais. Outras não querem mais em seus processos seletivos apenas alunos formados em escolas de renome. Isso é um recado claro de que a escola, em todos os seus níveis e áreas de formação, tem se mantido deitada na cama quentinha e não tem desenvolvido em seus alunos as competências que o mundo do trabalho tem demandado. O resultado é um só – as empresas estão buscando outras rotas para encontrar as pessoas que precisam. Você pode achar que estou exagerando e que isso ainda é muito embrionário, mas lhe garanto que o movimento existe e está se intensificado cada vez mais.
E você, o que pode ou deve fazer com isso? Em primeiro lugar, saiba que o seu currículo, além de ter apenas verdades que possam ser comprovadas, precisa demonstrar mais o que você tem capacidade de fazer no futuro do que fez no passado. Pode acreditar. Até o próximo!
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