Todos sabem o quanto eu sou fã deste momento histórico. Abundância de ideias, abundância de conectividade, abundância de pessoas querendo crescer, mudar o mundo e deixar um legado. Nunca, mas nunca mesmo, na história da humanidade tivemos tanta mobilidade social. Hoje, como nunca antes, independente de onde e em que condições nasceu, qualquer um pode chegar aonde quiser. Basta estabelecer objetivos, se preparar e correr atrás.
O caso Joana D´Arc é mais um incrível de superação. Negra, nascida em uma família muito simples e com pouco estudo, foi à luta, se dedicou e chegou ao mais alto grau de formação na sua área, com mestrado, doutorado e várias patentes na área química. Tudo isso lhe rendeu fama, notoriedade e diversos convites para contar a sua história. Eu tive a oportunidade de assistir a uma palestra sua em 2018 e confesso que me emocionei algumas vezes, principalmente quando ela relatou casos de discriminação que sofreu, das dificuldades (inclusive para se alimentar) quando chegou a Campinas para estudar na Unicamp, entre outras etapas da sua vida nas quais teve que superar grandes dificuldades para dar mais um passo rumo ao seu objetivo. Uma história inspiradora, comovente e muito bonita.
Porém, como ela mesma assumiu nesta última semana, “A gente se empolga e acaba falando demais”, quando teve que explicar algumas inverdades que foram descobertas a respeito da sua história. Especificamente em relação ao pós-doutorado em Harvard, a bolsa da Capes (órgão do Ministério da Educação) e a idade em que começou a graduação na Unicamp (19 e não 14 anos). Cabe a cada um julgar o tamanho do erro, que na minha visão, não apaga o seu legado e o belo trabalho que faz em Franca com crianças em condições de risco social, mas que deixa um belo arranhão na sua biografia, deixa.
Duas competências comportamentais que trabalho com meus alunos há anos são “Ética e Moral” e “Autenticidade”. Quem já teve aula comigo sabe da minha posição radical em relação a elas. São duas competências que não são grandes alavancadoras de carreira, mas podem destruir uma em minutos, ainda mais num mundo conectado em que as notícias (boas e ruins) correm na velocidade da luz. Na competência “Ética e Moral” existe uma habilidade que diz “Conquista as coisas pelo próprio mérito e não quer se apropriar do que não é seu”. Já na competência “Autenticidade”, a habilidade que toca este tema diz “Fala o que faz e faz o que fala”. Na minha visão, como digo enfaticamente aos meus alunos, temos que levar ambas ao pé da letra, sem concessões. A razão é simples – Uma falha aí pode colocar em cheque todo o resto. No caso da Joana, muitos se perguntam o porquê desses “exageros”, até porque a sua história já é fantástica mesmo sem eles. O que se ganha com isso? Nada. Muito pelo contrário, portas se fecham. Neste caso, uma entrevista no Roda Viva já gravada não vai ao ar e o filme que contaria a sua história talvez não aconteça mais.
Portanto fica aqui mais uma lição de que, neste mundo conectado e onde deixamos rastros por onde passamos, mentiras de qualquer ordem ou tamanho serão descobertas (por alguém ou alguma câmera) e podem, no limite, destruir toda uma reputação conquistada. O melhor, como digo aos meus alunos, é ser radical e não deixar rabos para trás, porque alguém vai encontrar e pisar. Até o próximo!