Já escrevi aqui no passado um texto a respeito de um fato muito interessante – sobre pessoas que, ao assumirem uma posição de liderança, mudam radicalmente a postura, perdem a humildade do dia para a noite e passam a tratar as pessoas de maneira radicalmente diferente. Esse tipo de comportamento, mais comum do que se imagina, inspirou uma frase de Abrahan Lincoln da qual gosto muito: “Quer conhecer realmente alguém, dê-lhe poder”.
Nesta semana, um fato semelhante me chamou a atenção e me fez lembrar disso. Vou omitir todas as informações que possam expor alguém ou alguma organização, mas o fato é real. Fui a um evento onde alguns presidentes debatiam no palco sobre o momento do Brasil, as expectativas futuras e como lideram as pessoas na sua empresa. Foi muito interessante ouvir cada um deles. Em particular, três deles falaram muito bem, demonstraram uma forte orientação para engajamento e construção de ambientes saudáveis e colaborativos. Já um outro, ao pegar a palavra, começou um festival de horrores. Para começar, disse que não precisamos de pessoas, mas sim de talentos. Oi? Logo em seguida afirmou para se achar talentos não se deve procurar no LinkedIn, onde a maioria é desempregado e mente nos seus currículos. Oi? Para completar o festival, disse que gosta muito de planejar, mas que a maioria das pessoas só sabe planejar e não executa. E aí compartilhou o que diz com frequência para pessoas do seu time: “Escuta, fulano, pelos próximos 6 meses não quero mais nenhuma ideia sua. Apenas execute o que tem que fazer”!
Ouvir este “grande líder” falar foi algo como assistir a um filme de terror com doses de comédia. Ao final, pensei até em fazer uma pergunta e questionar suas visões deturpadas, mas pensei comigo: “Quer saber? Não vou nem perder tempo discutindo com uma pedra”. Mas confesso que o evento como um todo valeu muito. Como sempre digo aos meus alunos, “todos nos ensinam algo, até aqueles que nos ensinam o que não fazer”. Neste caso, eu até agradeço porque tive essa história para contar aqui.
A Liderança é um exercício árduo e para poucos. Ela exige muita clareza de propósito, muito autoconhecimento e várias competências técnicas e comportamentais. Tenho sido, ao longo de todos esses anos que escrevo aqui, muito crítico ao perfil médio da liderança que hoje ocupa cargos de gestão nas empresas. Tem muita gente despreparada no comando de áreas e até mesmo de empresas, como neste caso. Isso é, ao mesmo tempo, oportunidade e ameaça. Se você tem um chefe como este, a sua vida deve ser um inferno. Mas se você deseja e está se preparando para assumir uma posição de liderança, saiba que a humildade será um dos ingredientes principais do seu sucesso. Além disso, saiba também que, além de deselegante, fazer afirmações convictas e equivocadas sobre temas tão básicos, demonstra uma falta de preparo total. Pra falar a verdade, não só eu, mas grande parte do público que ouviu as pérolas acima, ficaram com cara de “Oi?”. Até o próximo
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