Sempre fico intrigado com a capacidade que muitas pessoas têm de avaliar o sucesso de outros de forma rasa e simplista. Lembro-me bem quando o nadador César Cielo foi campeão olímpico em 2008 e ganhou uma grana enorme após aquela medalha de ouro e recorde mundial. Um dia, numa conversa de bar, um colega disse: “Olha esse cara! Ficou milionário em 20 segundos”! Não resisti e retruquei: “Não acredito que você está falando isso. Você conhece a trajetória dele para chegar aonde chegou”?
Desse episódio para cá, tenho observado que avaliações desse tipo são mais comuns do que imaginava. Não estou dizendo que todos nós deveríamos conhecer a fundo os bastidores da vida de pessoas que fizeram grandes coisas, mas que não deveríamos emitir opinião simplista sem conhecer. Acreditar que o sucesso alheio é obra do acaso, sem antes se debruçar sobre a real história, é sinal de despreparo.
Muitas pessoas entenderam o momento histórico pelo qual estamos passando. Um momento único, transformador e cheio de oportunidades e desafios, mas com abundância de ideias e de pessoas querendo deixar a sua marca, seja criando algo novo ou transformando o que existe. Muitos têm tentado e alguns conseguido. Os que conseguem, volta e meia têm que ouvir asneiras do tipo: “Você teve sorte”, “o mundo foi legal com você, mas não é comigo”, entre outras.
Nas minhas aulas de planejamento de carreira, sempre digo aos meus alunos que, acreditar nessas coisas, me parece meio que uma desculpa para justificar a preguiça ou a falta de determinação para fazer algo igual. Pense bem: achar que o sucesso dos outros é uma obra do acaso não é uma bela desculpa para se acomodar? Na minha visão, sim.
Alguns autores, os quais sou fã de cadeirinha, têm trazido muitas informações sobre “gênios” da história. Dois caras fizeram isso muito bem. Malcolm Gladwell e Adam Grant, em seus textos “Outliers” e “Originais”, nos contam como foi “fácil” para alguns atingirem o sucesso. O compositor Mozart e suas 10.000 horas de prática, os 1.200 shows dos Beatles antes do sucesso, as 37 peças e 154 sonetos de Shakespeare, as 1.800 pinturas, 1.200 esculturas e 2.800 gravuras de Picasso. As 248 publicações de Einstein antes da sua grande obra, as 1.093 patentes de Thomas Edison antes da lâmpada, entre outros tantos. Escolha um “gênio”, do esporte à música, da literatura ao mundo dos negócios, e faça uma rápida pesquisa sobre os bastidores da sua vida. Você não vai demorar a ver que “do céu caem poucas coisas” e que as grandes colheitas normalmente vêm depois de muita plantação e muita dedicação e cuidado ao que se plantou. Sim, há casos que fogem à regra, mas são irrisórios perto da maioria.
Repito, para fechar, aquilo que vem norteando as minhas discussões sobre o tema. A vida é muito mais “relações de causa e efeito” do que outra coisa. Mesmo sabendo que muitos não concordam, sigo colecionando casos e mais casos de pessoas que descobriram que, por trás do sucesso, há muito mais transpiração do que inspiração. Até o próximo!