Artigo 407 – Os 3 Cs de Ricardo Boechat

“Quer atingir o patamar de o melhor da sua área?”
por Marcelo Veras | 18 de fev de 2019
Artigo 407 – Os 3 Cs de Ricardo Boechat

Peço desculpas a quem esperava mais um texto da série “As competências da próxima década”, mas tive que interromper para escrever sobre um professor que acabo de perder e que acho nunca encontrarei outro igual. Ele nunca me deu uma aula presencial, mas todos os dias (com raríssimas exceções), nos últimos anos, por aproximadamente 15 minutos, me fez desenvolver muito algumas das competências que mais admiro e que acredito forjarem um profissional fantástico – raciocínio analítico, raciocínio crítico, comunicação e autenticidade.  Quantas vezes não saí correndo de casa para entrar no carro antes das 7h30 para ouvir o “Bom dia, bom dia. Eu sou Ricardo Boechat, esta é a Bandnews FM. Nós vamos ficar juntos até as 09 e qualquer coisa da matina....” . Dali, escolhia um tema e falava por 15 minutos com clareza, maestria, profundidade de análise e sinceridade. Metia o pau em quem quer que fosse: esquerda, direita, ateus, religiosos, mas sempre com um conjunto de argumentos empacotados em um português perfeito, vocabulário rico, mas compreensível, palavras claras e concatenadas, que até os alvos da crítica deviam elogiar.

O cara se foi, num acidente trágico no dia 11 de fevereiro de 2019, e deixou uma legião de órfãos. No jornalismo, nem se fala, mas a maioria dos seus órfãos é como eu. Gente que perdeu um grande professor. O careca, como era chamado, era uma referência. Ganhou todos os prêmios possíveis no jornalismo, teve uma carreira como é a dos gigantes, com idas e vindas, tombos e conquistas, mas sempre, sempre, fiel ao seu estilo e com a paixão dos grandes vencedores.

Acompanhando, entre (muitas) lágrimas, toda a cobertura da sua morte trágica e inesperada, fiquei pensando com meus botões: O que será que esse cara tinha para deixar uma marca tão relevante, um legado tão forte e tantos seguidores do seu estilo? E, como sempre gosto de fazer, acho que encontrei uma síntese. E ela não só serve para defini-lo e prestar aqui a minha homenagem ao meu querido professor Ricardo Boechat e à sua família, mas também para inspirar quem quiser, quando chegar a sua hora e partir daqui, causar impacto de igual tamanho nas pessoas. Eu as defino como “Os 3 Cs de Ricardo Boechat”:

1 – Competência: embora não tenha feito faculdade formal de jornalismo, era um estudioso compulsivo. Aprendeu na prática, encarou novos desafios de aprendizagem e tinha uma paixão pela essência do ofício. Segundo seus colegas, um professor nato e exigente nas redações por onde passou;

2 – Consciência: sabia exatamente quem era. Usava com maestria seus pontos fortes e não escondia seus pontos fracos. Não se iludia com fatos, pessoas, discursos ou falácias. Estava sempre com a consciência ligada na tomada e alerta contra ilusões;

3 – Coerência: esse talvez era a sua marca registrada. Um cara que poderia sofrer qualquer tipo de crítica, menos a de ser chamado de incoerente. Discurso e prática que sempre bateram na quinta casa decimal.

Pois bem, se você quer algum dia atingir um patamar semelhante ao do Boechat, encontre a sua forma de fazer com que estes 3 Cs deem o norte às suas palavras e, principalmente, ações.

Que Deus conforte a família. Que os céus recebam o Ricardinho Boechat de braços abertos e que eu supere o meu luto e encontre outra referência para me ensinar tanto como ele me ensinou.

Careca, se estiver lendo isso de algum lugar, MUITO OBRIGADO PELAS AULAS!

por Marcelo Veras
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