- Professor, acho que estou com um problema sério – disse o aluno em uma sessão de aconselhamento de carreira.
- Problema sério? Qual? Conte-me! – respondeu curioso o professor.
- Pois é, o meu chefe me prometeu duas coisas e até agora não cumpriu nenhuma. E, pior, sempre que cobro uma posição ele me pede mais alguma coisa para poder me entregar o que já deveria ter entregue. – disse o aluno com cara de quem estava chupando um limão.
- Quais foram as promessas e em que condições foram feitas? – interrogou o mestre.
- Estou há 5 anos na empresa e no mesmo cargo, batendo todas as minhas metas e recebendo elogios frequentes sobre o meu desempenho. A minha carteira de clientes hoje representa 10% do faturamento da empresa, sendo a maior e mais rentável. Há um ano conversei com meu chefe e solicitei duas coisas. Primeiro, que eu fosse promovido para o cargo “pleno” (hoje eu sou júnior). E segundo, perguntei se a empresa me ajudaria a pagar a minha pós-graduação que estava iniciando naquele momento. Fiquei muito feliz quando recebi a resposta positiva para ambos. Segundo ele, a empresa pagaria 50% da minha pós e a promoção para o cargo de “pleno” viria rápido. Ele até me disse que “essa promoção já deveria ter sido feita”, porque tenho responsabilidades maiores do que muitos “plenos” da empresa.
Bom, lá se vão 11 meses e nada. Nem a promoção, nem o apoio no curso. O pior de tudo é que já cobrei duas vezes e as respostas são absurdas. Em relação à pós, me diz que está quase saindo a aprovação (mas já estou quase acabando o curso e já paguei quase tudo sozinho). Em relação à promoção, toda vez que toco no assunto ele me diz que preciso bater a meta do próximo trimestre, coisa que sempre fiz e sigo fazendo, mesmo que isso não tenha sido colocado como uma exigência quando falamos pela primeira vez. É isso, professor. O que há de errado? Ah, o papo da gestora de recursos humanos da empresa é parecido. Fala, fala, me elogia, etc... e nada. Todos na empresa falam que ela não se preocupa em desenvolver os funcionários e só quer mostrar resultados financeiros porque tem interesse em ser promovida e ir para a Alemanha, matriz da empresa. E os dois só me enrolam. O que faço?
Após ouvir atentamente, o professor respondeu:
- Meu caro, você já ouviu um ditado cearense que diz que “de cobra não nasce passarinho”?
- Não, professor.
- Pois é, o seu chefe - e essa gestora de recursos humanos também – são pessoas que, embora estejam vivendo no século XXI, têm mentalidade do século XIX. Eles são pinóquios corporativos. Falam o que não devem. Prometem o que não deveriam prometer. Não cumprem com suas palavras e tratam subordinados como querem. No seu caso, acho até que você está demorando demais para ter uma conversa séria com ambos e dizer que a postura deles é algo que, além de lhe incomodar muito, não é correta e o desmotiva. E digo mais, com as competências que você tem e o padrão de entrega de resultados que possui, acho que está na hora de considerar sair dessa empresa e ir para um lugar onde, no mínimo, as pessoas cumprem o que prometem. O mercado na sua área está aquecido e você não terá dificuldades em receber outras propostas em outras empresas. Pense nisso, ouça outras opiniões, forme a sua e decida.
Depois de um suspiro profundo...
- Obrigado, professor. Era exatamente isso que estava pensando e concluindo. Só precisava desse empurrãozinho. Já sei o que vou fazer.
Até o próximo!