Creio que este é um dos que mais uso ao longo do ano, seja para refletir sobre algumas práticas que observo nos outros ou para dar uns tapas na própria cara. Aliás, se aprendermos bem a usar este ditado, a tendência é que a nossa cara vá viver com esparadrapos. A razão é muito simples – somos uns leões para achar defeitos nos outros e um gatinho para enxergarmos os nossos.
Esse ditado diz respeito a uma das características humanas que mais foi democratizada – a incoerência. A capacidade de dizer uma coisa e fazer outra, de criticar nos outros aquilo que erramos em alguma escala. Já escrevi muito sobre isso aqui e repito uma convicção que tenho há anos. Admiro muito, mas muito mesmo, as pessoas que são coerentes, que falam o que fazem, fazem o que falam e que possuem as atitudes alinhadas com as expectativas. Ou seja, aquelas pessoas que possuem posturas que posso até discordar, mas que sempre agem com coerência. No fundo, se pararmos para pensar, essas são as pessoas mais confiáveis.
Na dimensão da carreira, este ditado nos coloca uma grande questão. Será que estamos agindo da mesma forma como exigimos de outros? Será que não cometemos os mesmos erros que criticamos nos outros? A conexão do ditado com a incoerência pode não ser tão óbvia, mas existe e nos deixa sempre, aos olhos dos mais críticos, em posição desconfortável.
Num espectro mais amplo, também pisamos na bola com frequência. Quantas pessoas não criticam a corrupção e o jeitinho brasileiro, mas que, no dia-a-dia cometem “pequenos” delitos sem pensar, como não respeitar limite de velocidade, jogar lixo na rua, comprar produtos falsificados e por aí vai. No fundo, o que acontece é um fenômeno estranho e “interessante”. Se por um lado nós temos uma lente apurada para ver o que está errado à nossa volta, por outro, ficamos “cegos” ao encarar um espelho. E isso sempre acaba em um único lugar – na incoerência.
Como a carreira é uma maratona, e não uma prova de 200 metros, uma postura coerente é sempre a melhor escolha e será premiada no médio e no longo prazos. A confiabilidade, que é a base de relações de longo prazo, não se edifica em cima de incoerência. Ela nasce a cresce sempre em cima de verdade, de posições claras e ações alinhadas com tais posições. Mesmo que, aqui e ali, você ganhe um desafeto, uma postura coerente sempre conquista a maioria e cria relações mais ganha-ganha.
Portanto, na minha visão, só há duas coisas a fazer para não ser rotulado como “casa de ferreiro, espeto de pau”. A primeira é querer. Isso é uma decisão pessoal. Quero ou não ser coerente? Se a escolha for sim, o segundo passo chama-se “concentração”. Em que sentido? Você deve fazer periodicamente um censo e uma análise das suas decisões e checar se elas representam o seu discurso e o seu posicionamento como pessoa e como profissional. Se precisar, você pode solicitar a ajuda de pessoas que confia. Pergunte a elas com certa frequência se você cometeu alguma incoerência. Você pode se surpreender com a quantidade de vezes que tropeça, muitas vezes sem perceber. Esse mal da incoerência é espertinho e nos pega com muita facilidade. Para se livrar dele, só muita concentração. Muita mesmo. Até o próximo!