O termo já virou até nome de música (Panela Velha – Sérgio Reis) e fez sucesso entre os ouvintes do estilo. Quem passou grande parte da vida em Minas Gerais, como é o meu caso, sabe que boas comidas mineiras saem das panelas mais velhas e usadas da família. Mas, brincadeiras a parte, o fato é que nunca o tema foi tão debatido no mundo do trabalho. Se por um lado, as novas gerações nascidas na era da conectividade chegam ao mercado de trabalho com novas visões e novos paradigmas, criando novos conceitos, novas empresas e uma nova ordem, os imigrantes digitais, ou seja, aqueles que ainda nasceram no mundo analógico e na velha economia, seguem ativos e convivendo com os mais jovens nessa fase fantástica de transformação do mundo do trabalho.
É fato que os mais jovens de hoje são diferentes dos de décadas atrás. A revolução causada pela conectividade produziu uma geração diferente. Mais ousada, mais empreendedora, mais determinada a mudar o mundo, mais apressada e mais questionadora. Esse fenômeno é fantástico e tenho tratado muito dele aqui, sempre dizendo que é incrível trabalhar com essa geração e que todos deveriam cessar de apenas criticá-los e aprender a lidar com seus valores e anseios.
No mundo do trabalho eles chegaram para valer. Inspirados pelos criadores de empresas bilionárias criadas nas últimas quatro décadas (Google, Facebook, Amazon, Uber, entre outras), eles decidiram que não querem ser coadjuvantes, e sim protagonistas. A última pesquisa que tive acesso mostrava que 66% (dois terços) não querem ser empregados, mas querem ter a sua própria empresa. As cidades estão repletas de ecossistemas de inovação. Todos bombando, com incubadoras, aceleradoras de startups, fundos de investidores e tudo o que move essa nova economia – o sonho de criar um novo unicórnio (empresa que passe a valer mais de R$ 1 bilhão).
Essa onda de juventude tem produzido alguns equívocos por parte de algumas empresas, principalmente o de achar que apenas os jovens serão os responsáveis pelas grandes inovações daqui pra frente. Como sempre digo, todos os extremos são, por definição, burros. E para aqueles que estão abrindo mão 100% dos mais velhos e deixando suas empresas apenas com profissionais mais jovens, prestem atenção aos dados a seguir: Menos de 1% das startups de alta performance tem como fundador um empreendedor na faixa dos 20. A idade média dos empreendedores dentre as startups melhores sucedidas – mais de 904 funcionários em até cinco anos – é de 45 anos. Os pesquisadores analisaram dados de 2,7 milhões de pessoas que abriram negócios entre 2007 e 2014 nos EUA. Curiosamente, quanto mais bem sucedido o negócio, maior a idade do fundador. Até Steve Jobs, que tinha 21 anos quando ajudou a fundar a Apple, só a fez criar a sua grande invocação (O iMac) quando já era quarentão. O mesmo aconteceu com Bill Gates (Microsoft) e Larry Page (Google). Sim, os mais jovens estão criando coisas incríveis, mas todos os estudos mostram que é a maturidade e a experiência que trazem os grandes saltos. Adam Grant, no seu último livro (Originais – como os inconformistas mudam o mundo. Editora Sextante, 2017), já citado aqui recentemente, mostra outros estudos apontando para a idade de 45 anos como a mais frequente entre os que produziram seus melhores feitos, das artes à literatura, da ciência aos negócios. Portanto, fica aqui mais uma lição de um ditado antigo e que se comprova a cada dia como verdadeiro – “panela velha faz comida boa”. Até o próximo!