Vivemos em um mundo de velocidade. Tudo muda rápido. As pessoas têm pressa. Querem e são obrigadas a serem ágeis e rápidas em suas tarefas. Tudo é para ontem. “O tempo não para”, como disse Cazuza. O lema do momento é “os rápidos vão mais longe”. Aliás, eu mesmo já escrevi sobre isso e defendi a velocidade como uma habilidade importante nos tempos atuais. Por sinal, ela aparece claramente na competência chamada “Comprometimento e execução”, em uma de suas habilidades que trata do senso de urgência.
Pois bem, o tempo, a idade e a experiência nos trazem muitas coisas boas. Mas, na minha visão, sem sombra de dúvidas, a mais importante é a sabedoria de entender que os extremos nunca são bons e as melhores coisas estão sempre em torno do que chamamos de equilíbrio. Os extremos nunca produziram grandes coisas, e quando o fizeram, duraram pouco. O extremo frio, o extremo calor, a extrema esquerda, a extrema direita, a extrema liberdade, a ausência total de liberdade, entre outros. Os extremos nunca se mostraram eficazes e duradouros. Podem até ser úteis no curto prazo, mas não se mostram sustentáveis no longo.
Hoje quero trazer uma visão contra intuitiva dessa questão da rapidez. Um dos meus autores favoritos, Adam Grant, que acaba de nos premiar com mais um estudo fantástico, traz uma nova perspectiva para a pressa. Em um capítulo inteiro no seu último livro (Originais – como os inconformistas mudam o mundo. Editora Sextante, 2017), ele mostra um lado desconhecido e ignorado da procrastinação, ou seja, o ato de adiar, deixar para depois. Algo que sempre fomos educados e cobrados para não fazer, nem na vida e nem na carreira.
Pois bem, os casos reais trazidos pelo Adam Grant mostram claramente que a procrastinação, quando usada para aperfeiçoar uma ideia e minimizar riscos, não é de todo ruim. Muito pelo contrário, pode ser determinante para o sucesso de um empreendimento.
Sim, o mundo é rápido e exige agilidade, mas como tudo na vida, a dose pode matar. Em doses erradas, até água mata. E este texto mostra claramente que nem sempre os mais rápidos vão mais longe. Nem sempre os primeiros são os mais exitosos e nem sempre adiar algo é negativo. Infelizmente não dá para contar tudo aqui neste espaço, mas apenas fazer esta provocação e recomendar a leitura dessa fantástica obra, que por sinal, também apresenta números muito interessantes sobre outros mitos dessa nova economia, onde achamos que a maioria dos empreendedores de sucesso são muito jovens. Pura ilusão, pois a idade média dos fundadores das empresas mais valiosas do mundo supera os 40 anos.
Como lições de hoje, deixo duas: primeiro, que o ato de “deixar para depois”, quando usado nesta perspectiva de pensar mais a respeito e maturar mais a ideia antes de decidir, não é ruim. Muito pelo contrário, pode ser muito inteligente. Segundo, e não menos importante, é que os extremos nunca são bons. Ser rápido ou procrastinar não é necessariamente bom ou ruim. Em determinadas ocasiões, é melhor decidir rápido e em outras é melhor deixar para depois. Pense nisso e calibre melhor a sua pressa com a sua “preguiça”. Ambas fazem bem se usadas no momento certo. Até o próximo.