“É dando que se recebe”
Hoje quero discutir a gestão efetiva dos relacionamentos. Depois que a sua rede estiver montada, o que fazer com ela? Se você comprou a ideia dos artigos anteriores sobre esta competência deve estar se perguntando: - o que faço agora com esta lista de pessoas que supostamente teriam a doce condição de me ajudarem, hoje ou no futuro, a atingir os meus objetivos profissionais? A resposta está na citação clássica que abre este artigo. Sendo você cristão ou não, a frase bíblica vale há séculos e mostra o (único) caminho para que alguém possa desenvolver uma rede baseada em crescimento mútuo.
Conheço muita gente. Muitos ex-alunos e ex-colegas de trabalho. Tendo passado por 8 empresas e depois de 12 anos na academia, isso é normal. Nesse contexto, quero usar a cena que vou narrar como exemplo de ato execrável que tem o triste hábito de se repetir não só comigo, mas , com certeza, com o caro leitor que me acompanha. Lembro-me muito bem desta ocasião pela raiva que me gerou e pelo modelo didático de “como não fazer” as coisas.
Um belo dia, recebo um e-mail de um ex-colega de trabalho. Uma pessoa que trabalhou comigo há tempos e que até nos demos muito bem. Eu não falava com ele há pelo menos uns três anos. A vida simplesmente nos afastou, assim como acontece com a maioria das pessoas que conhecemos. Até aí tudo bem. A questão começa quando ele me escreveu este e-mail. O texto começava com um cumprimento caloroso, como se nós tivéssemos nos encontrado e tomado um vinho juntos há dois dias. Para piorar, ele perguntou como ia a família e outras baboseiras do gênero. Duvido que ele soubesse o nome de uma pessoa sequer da minha família. Já fiquei irritado e prevendo o que viria depois, ainda mais vendo na tela o anexo (currículo) ao e-mail. Não deu outra. Lá pelo terceiro parágrafo ele escreveu que estava "buscando novas oportunidades" e "se recolocando". Um eufemismo comum para camuflar o fato de que acabara de perder o emprego e estava desesperado para salvar a sua pele. Para fechar o "kit equivoco", no final do texto, me deixou um convite para um café. Um horror completo. Nem respondi.
Você pode até me condenar por não querer ajudar ou por "tirar sarro" da desgraça alheia, mas isso acontece todo dia e tenho certeza absoluta de que 100% das pessoas que recebem um e-mail desses faz o mesmo. Vamos combinar. Eu tenho pouco tempo, muitas coisas para fazer e, sem dúvida, muitas outras pessoas que de fato tenho vontade de ajudar. É uma questão de prioridade, não de maldade. Há pelo menos umas 20 pessoas do meu convívio que, se me ligarem em apuros, paro tudo que estiver fazendo e vou ao encontro delas. Com algumas, morro abraçado se for necessário. Mas, esse tratamento não poderia ser dispensado a alguém que nunca me ligou, não sabe nem o dia do meu aniversário, não fala comigo há anos e me escreve algo com tal falsa intimidade. Desculpe-me, mas isso é tudo, menos ter esta competência chamada “Relacionamento interpessoal”.
A base desta competência é o interesse legítimo e o crescimento mútuo. E, como em uma conta corrente ou em uma poupança, só se pode usar aquilo que se poupar. Se o saldo é zero, não tem papo. Se você quer poder contar com alguém um dia, crie este saldo. Ajude antes de ser ajudado. Dê antes de receber. Nunca, mas nunca mesmo, faça o que o exemplo acima mostra. Nunca contate ninguém em momentos difíceis se você nunca fez nada por esta pessoa. No campo profissional, esta é a lei.
No próximo artigo tratarei das formas de se criar este saldo positivo e de se construir esta rede de apoios. Até lá.