Artigo 376 – Neymar e as lentes

“As lentes não mentem e a imagem virou concreto”
por Marcelo Veras | 16 de jul de 2018
Artigo 376 – Neymar e as lentes

A história do pastor mentiroso e do lobo está até na Wikipédia. Além disso, é encenada em vários teatros Brasil afora, como uma peça educativa para as crianças. A mensagem é simples: Quando você mente demais, cria uma imagem de que tudo que fala é mentira. Assim, mesmo quando um fato for verdade, mas tenha saído da sua boca, ninguém acredita mais. No caso do menino mentiroso, após não ser mais ajudado e perdido várias das suas ovelhas, ainda teve que ouvir do velho sábio ao reclamar da falta de ajuda: "Na boca do mentiroso, o certo é duvidoso."

Neymar é craque. Disso ninguém duvida. Suas competências técnicas são inquestionáveis. Mas tenho seríssimas restrições às suas competências comportamentais. Dentre elas, uma que tem, entre suas habilidades, a seguinte: “Conquista as coisas pelo próprio mérito. Não se apropria do que não é seu”. Esta competência tem nome e sobrenome – Ética e Moral.

Nessa copa, além de sair sem o título e sem jogar metade do que é capaz, vai levar uma imagem para o resto da vida – a de simulador. Quer ver como isso pegou? Digite no youtube “Neymar Challenge” (em português, “desafio Neymar”) e tire suas conclusões. Exagero? Maldade infundada? Inveja? Injustiça? Talvez. Mas uma coisa é fato. Quem tiver o tempo e a paciência para pegar lance a lance e analisar os fatos, vai ver que onde tem fumaça, tem fogo. E não é apenas na copa. A fama vem de outros carnavais. O cara gosta de uma encenação e é péssimo ator.

Ah, Marcelo, mas ele era caçado em todos os jogos! Tomou muita paulada e era perseguido por seus marcadores! Sim, mas e o Messi? O Cristiano Ronaldo? O Mbamppé? Também não eram? Sim, todos os craques são caçados em campo e nem por isso levaram a imagem de simuladores. De novo, deixemos a emoção de lado e olhemos para os fatos.

O mais importante disso tudo e que quero destacar aqui nem é a fama do Neymar, que por sinal não me diz nada, nem como atleta e nem como pessoa, mas o fato incontestável de que a nossa imagem é construída, para o bem ou para o mal, a partir de ações e omissões. Tudo o que fazemos ou deixamos de fazer coloca um tijolo nessa parede chamada “imagem”. E quando esta é edificada, não adianta reclamar se ficou torta ou mal acabada. Não adianta dizer que o tijolo de número 75 não deveria estar ali e não faz parte da parede. Faz sim. Está ali e ponto final. E tem mais, quanto mais pessoas reforçarem e endossarem essa imagem, mais forte e “verdadeira” ela fica.

Há injustiças no mundo em relação ao tema? Sim, com certeza. Mas essa não é a regra, mas a exceção. Na média, o tempo dá sempre conta de colocar os devidos pingos nos “is”. Mas quando uma imagem pega, gruda e atravessa continentes e anos, ainda mais quando aparecem de forma nítida nas lentes de uma câmera, aí não há como reclamar. Se quiser mudar essa imagem, o que é sempre possível, tem que mudar a postura aos olhos das mesmas lentes.

No caso do Neymar, repito, a lição é clara. Se uma imagem sua está se consolidando e você não gosta dela, antes de questionar as pessoas que estão endossando e disseminando, pegue um espelho (de preferência de corpo inteiro) e tente rever, por todos os ângulos, seus atos e omissões, suas escolhas e suas renúncias. Talvez você possa estar sendo alvo de uma injustiça, mas talvez você esteja sendo captado por lentes que nem sabia que existiam.  Até o próximo!

por Marcelo Veras
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