Na América Latina o futebol é dominado nas últimas décadas por seis países: Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile e Colômbia. Normalmente quatro desses vão aos mundiais. O Peru sempre foi freguês. Há 36 anos não sabe o que é uma copa do mundo. Mas dessa vez, na Rússia, está de volta. Garantiu a vaga na repescagem, mas estará lá. Seu primeiro adversário será a Dinamarca, um país também sem grande expressão no futebol e que não foi a várias copas. Já em clima de competição e com sangue nos olhos, os peruanos decidiram produzir um filme sobre este primeiro jogo. O filme é bem produzido e emotivo. Fala de garra, de superação e da força do povo peruano. Exibe cenas de tragédias e de pobreza, entre outras. Diz que o povo peruano é guerreiro e lutador. No final do vídeo, em tom de provocação, diz aos dinamarqueses: “Nos vemos no campo!”. Veja com seus olhos, ouça com os seus ouvidos e forme a sua opinião, mas eu não gostei. Aliás, uma provocação bem dispensável, ainda mais neste tom.
O que gostei mesmo foi da resposta da Dinamarca, em menos de 10 dias. Um vídeo com um coral de mulheres, todas com semblante sereno e alegre. Um texto lindo, exaltando o provocador (Peru), ressaltando todos os seus pontos fortes, falando das belezas do país e lhes dando os parabéns pela presença na copa. Lindo, e com um fechamento ainda mais sensacional: “A copa do mundo não serve apenas para se jogar futebol, mas também para se fazer novos amigos”. Um verdadeiro “tapa com luva de pelica”. Uma resposta contra intuitiva e muito, muito inteligente. Digna de quem tem muita classe e visão correta do que significa o esporte.
Digite os textos abaixo no google e assista ambos:
- Vídeo do Peru: “El emocionante mensaje de Perú a Dinamarca!”
- Resposta da Dinamarca: “Dinamarca responde saludo a la selección peruana con emotivo vídeo”
Ao longo da nossa vida e da nossa carreira passamos por muitas situações parecidas. Recebemos provocações, ironias, palavras amargas e chamados para a luta. O caminho mais fácil é sempre revidar e devolver na mesma moeda. Aliás, acho que os provocadores esperam isso. Quem provoca quer briga. Responder no mesmo tom é, além de um sinal de pouca sabedoria, dar o que o outro quer. Neste caso fantástico, os dinamarqueses mostraram que são maiores, muito maiores, do que os peruanos achavam que fossem. Mostraram que possuem uma educação acima da média e que não se apequenam, mesmo que provocados. Eu queria ver a cara de quem escreveu o roteiro do vídeo do Peru quando viu a resposta. Deve ter sido parecida com a de uma boneca Barbie na caixa.
Este episódio me fez lembrar as inúmeras vezes, ao longo da minha vida e da minha carreira, que bati de frente com quem me provocava. Em todas elas não ganhei nada e perdi muito, além de me colocar no mesmo nível dessas pessoas pequenas. Hoje, depois dessa jornada de aprendizado e alguns cabelos brancos, tento não mais entrar neste pântano de pequenos. Às vezes a minha resposta mais rude é o silêncio. Aliás, a indiferença dói mais do que um tapa.
E você? Qual tem sido a sua postura quando recebe palavras e provocações amargas? Revida? Se sim, saiba que o caminho mais legal é exatamente na direção oposta, assim como fizeram os dinamarqueses. Devolver um tapa com uma rosa é um sinal de inteligência e não de fraqueza. Ah, só mais um detalhe: A Dinamarca também venceu o jogo na copa por 1 x 0. Ou seja, perdeu na provocação e perdeu no campo. E se eu já tinha vontade de visitar e conhecer a Dinamarca antes, agora ela triplicou. Tillykke, Danmark! Até o próximo!