Não sou e nunca fui profundo conhecedor de futebol. Para falar a verdade, sou torcedor apenas em época de copa do mundo. Não sofro por nenhum time e venho sentindo que este esporte tem ficado cada vez mais chato. Mas, como disse, em época de copa do mundo viro “um especialista” e um torcedor fanático. Como meu perfil sempre foi sempre de observador de fenômenos, principalmente ligados a questões profissionais, em época de copa do mundo observo mais e me atrevo a participar de conversas e fazer prognósticos junto com aqueles que entendem muito mais do que eu.
O esporte, especialmente o futebol, traz muitas lições para a nossa carreira e para aqueles que ocupam cargos de gestão. Embora seja, como todos, um esporte imprevisível e pode nos pregar peças (como o 7 x 1, por exemplo), o futebol também segue certas lógicas. Uma delas diz que um bom líder faz a diferença numa equipe. O Tite é um belo exemplo. Pegou o time quase fora da copa durante as eliminatórias e o transformou, ganhando quase tudo e se classificando em primeiro lugar na América do Sul. Repito, “na América do Sul”. Mérito dele. Um cara sensacional, competente e que consegue motivar jogadores como poucos. Já escrevi uma crônica aqui sobre ele (As lições de Tite) e seu estilo de liderança que admiro muito. Mas tem uma outra máxima que sempre impera: “Uma equipe depende mais do conjunto do que de um talento individual”. E é nessa que acho que o Brasil vai dançar. Tem um bom líder e um craque. Mais nada. Em um jogo isolado, isso pode decidir. Numa copa, não acredito.
A Argentina tem Messi e nunca ganhou nada com ele. Portugal tem Cristiano Ronaldo e nunca foi muito longe em copas do mundo. Aliás, quando venceu a Eurocopa de 2016 ele não participou da final porque se machucou logo no início do jogo. E por aí vai. Pode pegar os craques atuais de cada país e fazer análises semelhantes. Não vai demorar para você concluir que, para ganhar um torneio importante como uma copa do mundo, o conjunto vale mais do que o talento individual. Aliás, foi com um conjunto perfeito que a Alemanha venceu a última copa. Sem uma grande estrela que fosse ponto fora da curva.
Parece que a seleção brasileira vai para a copa assim. Com um grande líder, um grande craque e ponto. O primeiro amistoso de preparação, há duas semanas da copa e contra um time europeu mediano, mostrou isso. Parecia um time “caranguejo”, ando para o lado e para trás. Alguém vai dizer: “Ah, Marcelo, calma. Era só um amistoso! E tem mais, estavam todos com medo de se machucar às vésperas da copa!”. Ok, ok, tomara que seja isso, mas a minha intuição não em enviou bons sinais em relação a este time. Falta alguma coisa que não sei bem o que é. Uma equipe apática, com medo de ir pra cima e que, repito, só jogou para o lado e para trás. Um amigo que entende muito de futebol me disse recentemente: “Marcelo, o fantasma da goleada ainda está ali e vai demorar para desaparecer. Daí a insegurança”. Não sei se é isso, mas tenho certeza de uma coisa – ou o Tite (que tem capacidade total para isso) consegue, num curto espaço de tempo, fazer com que belos jogadores rendam mais e se soltem mais, ou assistiremos de novo um time com bons nomes não chegar lá, porque depositou todas as suas fichas em um único craque. Torço muito para a minha intuição estar errada (o que não será a primeira vez que acontece), mas vejo um time incompleto. E isso, geralmente, não funciona. Um bom líder e um bom craque não são suficientes em uma equipe de alto desempenho. Até o próximo!