Ter uma capacidade enorme de “apagar” e esquecer o passado é uma virtude ou um defeito? Boa pergunta, não? Quem apaga da cabeça eventos passados, principalmente os ruins, é mais ou menos feliz? E quem simplesmente “deleta” pessoas que lhe decepcionaram, mesmo que tenham vivido com elas tempos bons, é ingrato ou inteligente? Esquecer é uma arte ou uma ciência? Qual é a sua opinião?
Pois bem, nessa semana que passou este tema veio à tona em duas conversas que tive. Na primeira, com um amigo executivo que foi desligado no início do ano. No nosso papo, ele me contava que ficou uns três dias de “luto”, até por que não esperava pela demissão, e acordou no dia seguinte cheio de energia para recomeçar. Depois de mais duas semanas de reflexão e conversas, já tinha quatro cenários profissionais possíveis e deve decidir qual seguir rapidamente. O que achei mais interessante na nossa conversa foi que, em nenhum momento, ele se queixava do ocorrido ou tinha postura saudosista. A conversa girava 90% entre o presente e o futuro. No seu rosto, nenhum sinal de mágoa ou rancor. Em determinado momento da conversa ele falou: “Estou enxergando oportunidades hoje que nem imaginava que existiam”.
Em outra conversa com um grande amigo, o tema foi o mesmo. Neste caso, o meu estilo, ou melhor, a minha capacidade apagar coisas e pessoas da minha vida era o tema central. Fizemos uma sessão de recordação sobre fatos passados onde ficava muito clara a minha capacidade de “deletar” fatos e pessoas da minha mente. É como se eu fizesse uma lobotomia seletiva. Simplesmente apago aquilo que não faz mais parte de minha vida e nem lembro que existe. Apago mesmo. Ele, por outro lado, me confessava que ainda sofria um pouco em função de projetos passados que adoraria ter levado até o fim, mas que acabou precocemente. Não estava em discussão quem estava certo ou errado, mas, sim, como cada um lidava com o que já passou.
Bom, qual das posturas é defeito ou virtude, cabe a cada um julgar. E duvido que, mesmo se fôssemos para o conselho de segurança da ONU, chegaríamos a um consenso. O trato que cada um dá ao seu passado é muito pessoal e, independente de qual seja, deve ser respeitado. Mas não posso me esquivar de uma opinião muito clara. O passado tem um poder enorme de nos fazer perder tempo e energia. Há pessoas que ficam ali e não saem, como se fossem prisioneiras de algo que nem sequer existe mais. Quantas vezes você viu pessoas que passam anos e anos se remoendo em função de um relacionamento que acabou, de um emprego que se foi, de uma empresa que não deu certo? Como um bom engenheiro, eu só faço a conta. Cada minuto que alguém perde remoendo o passado é um minuto perdido na edificação do presente e do futuro. Até já cunhei a seguinte frase: “Enquanto não abandonamos o passado, o futuro não chega”. Portanto, sigo com a minha máxima de que o passado é bacana e faz parte da minha vida. Não o nego. São páginas no livro da minha história, mas que ficam lá, quietas e sem me perturbar. Algumas eu até grampeio. E se, por alguma razão, ele tentar se transformar em uma âncora na minha vida, eu corto a corda, sem dó. Até o próximo!