Há 5 anos, a minha mãe, com então 71 anos, foi induzida pela gerente do banco a fazer um péssimo investimento com o seu limitado dinheiro. O dito investimento era mais um daqueles que os gerentes de agência “ganham” como meta e empurram goela abaixo de seus clientes, principalmente, os menos esclarecidos. No caso da minha mãe, além de um rendimento diminuto, o dinheiro ficou “preso” por 5 anos. Imagine se faz sentido para alguém com 70 anos entrar numa enrascada dessa. Ao descobrirmos isso, ainda mais a minha mãe afirmando que não foi bem isso que a gerente disse antes de fazê-la assinar o papel, deu vontade de ir lá e fazer algo que não se conta aqui. E olha que ela tem conta nesse banco, que diz em suas propagandas que o cliente está em primeiro lugar, há 48 anos.
Há três semanas, outra pessoa próxima a mim me disse que, ao checar seu extrato, coisa que só faz de vez em quando, viu que a tarifa mensal tinha dobrado, de R$ 20,00 para R$ 40,00. Ao ir até a agência questionar, ouviu da gerente que, em função da sua movimentação, havia sido migrada para o pacote “premium”, com mais serviços, gerente exclusivo, entre outros. Ao dizer que não pediu isso, não quer esses tais serviços adicionais e que quer o retorno do que foi cobrado a mais sem a sua autorização, ouviu da “amiga” gerente que vai abrir um processo para tal, que demora algumas semanas e que não há como devolver o que já foi cobrado, porque isso estava no contrato, aquele gigante e com letras minúsculas, quando abriu a conta.
Por fim, e para completar a obra-prima, na semana passada uma ex-aluna me contou uma história de embrulhar o estômago. Algo que eu já sabia, mas nunca tinha ouvido de forma tão clara. Pois bem, ela veio se aconselhar em relação à sua carreira, que só cresce em um dos 3 maiores bancos do Brasil, e acabou me confessando que está com um sério dilema. Prefiro reproduzir a sua fala do que contar com as minhas palavras. “Sabe, professor, estou com um dilema terrível. Tenho menos de 35 anos e já assumi como gerente de uma agência de bom porte. Sou tida no banco como alguém com alto potencial de crescimento e meus chefes acham que vou longe na empresa. O problema é exatamente este. Não sei se é isso que quero para a minha vida. Gostaria de trabalhar com algo que me desse mais realização. Gostaria de trabalhar em algo onde eu pudesse ajudar, realmente, mais às pessoas e fazer alguma diferença no mundo. Lá, eu não consigo fazer isso. Nem com a minha equipe tenho conseguido fazer algo além do que cobrar metas. Sabe como é, não é, professor? Em banco, tem meta pra tudo. Cartão de crédito, seguro, título de capitalização, abertura de conta, captação de investimento, etc. E para bater essas metas, sempre crescentes, na maioria das vezes tenho que fazer coisas com meus clientes que não são boas para eles. Isso me mata por dentro.”
Bom, creio que o caso fala por si só. Além do conflito total de valores, tema que já tratei aqui inúmeras vezes, esta profissional tem ambições de carreira que não passam necessariamente por cargos ou salários, mas por outro tipo de papel na sociedade. E conflitos como este existem aos montes e em cada esquina do mundo do trabalho. No caso dos bancos, quero estar vivo para ver o que vai acontecer com um setor importante e relevante, mas que tem na sua espinha dorsal a geração de riqueza acima dos interesses dos seus clientes. Até o próximo!