Sandra é uma profissional competente. Nos seus primeiros 5 anos de carreira (fora os 2 de estágio) trilhou um bom caminho em uma empresa bem bacana. Hoje ocupa um cargo de liderança na área de recursos humanos dessa empresa, que acumula há três anos um lugar no pódio das melhores empresas para se trabalhar. Há pouco mais de 2 anos, fui a essa empresa para apresentar a nossa escola de negócios e propor uma parceria. Fui recebido com muito profissionalismo e educação pela Sandra, mas me chamou a atenção a sua postura em vários momentos da nossa conversa. O fato que me trouxe certa impressão foi que ela fazia questão de me relembrar, com muita frequência, que a empresa estava entre as melhores para se trabalhar. Também falava muito que os profissionais daquela empresa eram uns felizardos, que eram todos muito bons, que o clima era ótimo e que ali estava uma das melhores gestão de pessoas do Brasil. Achei aquilo tudo muito legal, mas confesso que o excesso de autoelogios me incomodou um pouco.
Como você já sabe, caro leitor, me esforço para ser um profundo observador quando o assunto é carreira. Os meus mais de 1.000 ex-alunos representam uma fonte de água limpa e deliciosa, onde posso beber sempre, matar a minha sede e pescar detalhes, às vezes ignorados por muitos, mas que mostram como as carreiras são construídas (ou destruídas). Pois bem, coincidentemente, nos últimos meses, três pessoas, em situações diferentes, me contaram coisas sobre essa empresa, que ainda segue entre as melhores para se trabalhar. Uma me contou que está esperando há dois meses uma resposta sobre uma proposta que fez à empresa e não obtém nem sequer um “não”. Outra me disse que participou de um processo seletivo, fez três entrevistas e não obteve resposta alguma. E, por fim, outro me contou que também participou de um processo seletivo lá e que, quando foi entrevistado por uma pessoa do RH, desistiu da vaga porque achou a pessoa muito arrogante e que tentou lhe vender uma ideia de que quem trabalha ali deve ajoelhar-se todo dia e agradecer a Deus. Adivinha quem era essa pessoa? A Sandra.
Obviamente, Sandra é um nome fictício e os dados acima foram maquiados para evitar constrangimentos, mas, sim, o caso é real. E quer saber mais? Casos como este são mais comuns do que peixe no oceano. Pessoas que, ao assumirem um cargo legal numa empresa de bom porte, se transformam na arrogância em forma de gente. Usam a marca corporativa para exercer uma espécie de “poder abusivo” com parceiros, fornecedores, candidatos a emprego, entre outros. Neste caso, fiz questão de contar ao ex-aluno que desistiu da vaga que eu também desisti da empresa e não voltei mais a tentar nenhuma parceria. A razão é muito simples, tanto no meu caso como no dele, existem outras empresas e essa é apenas mais uma.
A Sandra comete um erro fatal, na minha modesta opinião. Ela mistura a pessoa Sandra com a profissional Sandra. Ela incorpora, de maneira burra e equivocada, o papel dela na empresa na sua pessoa. E, para completar o prato mal feito, coloca o tempero da arrogância que acha legítimo por trabalhar numa empresa que foi capa de revista e que possui muitos interessados em trabalhar lá. Repito, esse é um erro fatal. Se a Sandra trabalhar nessa empresa até se aposentar, pode até ser que essa postura possa lhe servir para alguma coisa, mas ainda sim, duvido de que alguém assim vá muito longe. Mas se a querida Sandra sair dessa empresa e algum dia precisar buscar uma vaga no mercado, terá colecionado uma legião de pessoas que não vão mover uma palha para lhe ajudar. Alguém precisa lhe explicar, e não serei eu, que o mundo é pequeno, redondo e dá voltas. Até o próximo!