Artigo 316 – Trem bala

“A vida é trem bala, parceiro. E a gente é só passageiro prestes a partir”
(Ana Vilela)
por Marcelo Veras | 22 de maio de 2017
Artigo 316 – Trem bala

Às vezes sou meio retardatário no que se diz respeito a filmes e músicas. Por várias vezes já tiraram onda com a minha cara quando falo de uma música que acabei de conhecer, mas que já faz sucesso há tempos. Talvez, se você já conhece a música da Ana Vilela que está fazendo o maior sucesso, poderá dizer o mesmo. Mas essa eu conheci na última semana, e confesso que a letra me tocou. Logo pensei, será que é mais um caso de sucesso com uma única música ou essa moça vai trazer mais pérolas como esta no futuro? Tomara, porque poucos conseguem fazer o que Djavan, Milton Nascimento, Legião Urbana, entre outros, fizeram.

Se você ainda não ouviu a música, vale a pena. Mas recomendo, caso seja uma pessoa sensível, se estiver naquela fase de repensar a vida ou tenha perdido alguém próximo recentemente, que deixe uma caixinha de lenço ao lado. Só por segurança.

A letra é simples, mas profunda. Sutil, mas direta. Leve, mas dura. Na voz doce da Ana Vilela, nos invade como um cheiro de um perfume suave. E vai entrando aos poucos até beliscar o coração. Os questionamentos chegam de repente, num soluço. “Caramba, verdade! A vida é um sopro. Será que estou dando valor às coisas certas?”.

No meu caso, três fatos me invadiram ao fluir da música. O primeiro foi a viagem recente que fiz com a minha filha. Só eu e ela. Foi algo muito marcante. Quatro dias de “overdose” de Júlia. Um sonho antigo, que eu estava protelando e resolvi não adiar mais. Foi mágico. Voltei da viagem com um sentimento de felicidade indescritível. O segundo foi a lembrança da morte do Prof. Antonio Marques há dois anos, que o facebook fez questão de me lembrar. Um cara cheio de vida, com inúmeros projetos em curso, um livro recém-lançado e um projeto de uma nova empresa aos 67 anos. Após duas semanas de descoberta da doença, ele simplesmente partiu no trem-bala. E terceiro, por fim, e que toca o nosso tema de todas as semanas, foi a pergunta “O que o meu trabalho vai deixar de legado? O que as coisas que eu faço vão impactar o mundo e a vida das pessoas? Será que vou deixar alguma marca quando o trem-bala me levar? Será que vou deixar uma contribuição relevante para as pessoas que conviveram comigo? Será que estou usando as minhas competências de forma egoísta e apenas em meu favor?”.

Talvez você possa estar pensado “Meus Deus, esse cara bebeu antes de escrever esse artigo”. Confesso que não. Na verdade, a culpa é da Ana Vilela e da letra da sua música. Quer sentir isso? Desligue seu celular, respire fundo e ouça.

O nosso trabalho ocupa pelo menos um terço da nossa vida. É muito tempo. Ninguém pode dizer que, nessa dimensão da vida, não teve tempo suficiente para deixar uma marca. Só se não quiser, como muitos não querem e consideram o trabalho apenas uma fonte de sustento. Mas sei que para muitos a questão do legado é importante. E as oportunidades de, através do trabalho, deixar uma marca forte e um legado eterno são imensas.

Se para você, assim como para mim, o trabalho é muito mais do que uma fonte de renda e é uma oportunidade de mudar vidas e o mundo, deixo aqui apenas uma pergunta a ser respondida: “Que marca você vai deixar quando partir no trem-bala?”. Até o próximo

por Marcelo Veras
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