Na última semana, realizei um sonho. Fiz a minha primeira grande viagem com a minha filha. Só nós dois. Quatro dias 100% juntos e grudados. A Júlia tem 11 anos e está naquela fase fantástica de curiosidade crônica que a coloca num comportamento de tentar entender melhor o funcionamento do mundo, das pessoas e das sociedades. Uma fase que, com certeza, irá determinar grande parte do seu padrão moral e ético, em função do que lhe for ensinado e das experiências que tiver. Fomos para os Estados Unidos, mais especificamente para Nova Iorque. Entre shows e parques, fiz questão de levá-la ao memorial do 11 de setembro. Foi uma lição dura, mas importante. Ela chorou, aliás nós choramos, litros ao visitarmos cada espaço que registra o horror daquele dia. Fotos dos mortos, carro de bombeiro quase derretido, bilhetes dos filhos aos pais mortos e por aí vai. Uma experiência marcante e emocionante. Para ela, ainda mais difícil de entender como algo como aquilo foi possível de acontecer. Porém, entre lágrimas e conversas, fui tentando explicar situações atuais, como o terrorismo, as questões políticas e geopolíticas, o momento histórico no qual vivemos e os desafios que temos pela frente. O “engraçado” é que ela ficou mais chocada quando eu disse que demoraram mais de 9 anos para capturar o Osama Bin Laden. “Como assim pai? Por que demoraram tanto?”.
Numa outra ocasião, em um taxi, lemos uma frase que se encontra em um adesivo no vidro que separa os passageiros do motorista, comum naquela cidade. Depois vimos que esse adesivo consta em todos, 100%, dos taxis. A frase é, literalmente: “Assaltar um taxista é punível com pena de 25 anos de cadeia ou mais”. Mais uma vez ela ficou chocada com a clareza do recado. Daí eu expliquei como funcionam as leis naquele país. Disse a ela que nunca conheci um lugar no mundo com leis tão duras, as quais punem de maneira muito forte quem anda fora do trilho. E ela pôde presenciar um padrão de comportamento que, longe de ser o ideal, é muito mais sério do que em terras como as nossas. Aliás, já tratei disso aqui quando discuti a competência “Ética e Moral”. Ali, quem pisa fora da linha, paga caro. Contei para ela que lá, se o criminoso tem cargo público, paga mais caro e é julgado mais rapidamente, para dar o exemplo aos demais. Contei casos de artistas e pessoas influentes que foram mofar na cadeia, mesmo tendo todo dinheiro do mundo.
Mais uma vez, longe de mim dizer que os Estados Unidos são exemplos em tudo, mas as bases legais sobre as quais aquele país funciona são de dar inveja. Contar esses casos e como a lei lá é dura, gerou mais uma pergunta da “inocente” de 11 anos: “Pai, por que não punem os corruptos no Brasil com as mesmas regras daqui?”. Imagine a minha cara ao responder algo tão óbvio e, ao mesmo tempo, tão longe da nossa realidade.
Enquanto escrevo, estou vendo a repercussão da libertação de mais um corrupto pelo Supremo Tribunal Federal. Não sou especialista em leis, muito menos em “brechas” da lei, mas o fato é que quando regras morais não são cumpridas e quando pessoas que cometem desvios de caráter não são exemplarmente punidas, o recado é um só: “Cada um faça o que quiser!”.
E nas empresas? Mesma coisa. Quando um líder faz vista grossa para atitudes erradas, também dá um recado claro para que todos façam a festa. Já está provado que somos mais produtos do meio do que achamos. Ou seja, temos a forte tendência de dançar a música que estiver tocando.
Sabe o que é pior nisso tudo? É que nesses ambientes, os bons vão embora. Tenho visto muita gente boa, quando tem condições, deixando o Brasil. E nas empresas, todo santo dia, um bom profissional vai embora, porque vê ali uma liderança que não garante um ambiente pautado pelo respeito, pela moral e pela meritocracia.
O caminho é longo, para o Brasil e para muitas empresas. O importante é não desistirmos e lutarmos até o fim. Até o próximo!