Às vezes me sinto um solitário no deserto ou falando para as paredes. Definitivamente, defendo algumas causas que possuem tão poucos adeptos que daria para fazer uma festa num quitinete de 30 metros quadrados. Uma dessas causas me visitou nesta última semana com dois casos próximos. E como estamos falando de cegueiras, aí vai mais uma – a cegueira de consequências. Em outras palavras, pessoas que simplesmente não pensam que suas atitudes estão sendo vistas por muitos e que lhes trarão consequências.
Para mim e meus amigos do quitinete, a vida, as finanças pessoais e a carreira dançam uma música chamada “relação causa-efeito”, ou seja, tudo o que fazemos hoje determina os resultados que vamos colher amanhã. Tudo é consequência de uma ação anterior. Respeito, convivo e tenho até amizade com pessoas que acreditam no acaso, na sorte, no destino ou na mão divina, mas para mim essas coisas, se é que existem, contam muito pouco. Bom, mas isso é outra história. E por falar em história, deixe-me lhe contar os dois fatos que presenciei nestas últimas semanas e que materializam a cegueira de consequências.
Primeiro, uma pessoa posta na sua página do facebook um texto fazendo uma piada com quem sofre do mal de Parkinson. O texto era o seguinte: “Será que uma pessoa cega e com mal de Parkinson pode ser confundida com um mudo?”. Que tal? Gostou da piada? Calma, tem mais uma. Uma outra pessoa é desligada da empresa, assina o termo e é dispensada do aviso prévio. Ao sair da empresa, percebe-se que o celular corporativo e o laptop da empresa que estavam sendo usados por ela possuíam uma senha de acesso. Ao ligar para esta pessoa pedindo as senhas, ouve-se um sonoro “não vou passar”. Ou seja, os equipamentos “da empresa” ficam inabilitados para uso, porque a pessoa colocou uma senha e não quer informar. Legal, não acha? Ah, neste segundo caso, pelas características da função e do profissional, esta empresa ou seu ex-chefe com certeza serão consultados futuramente para obterem referências.
Confesso que às vezes sinto que estou ficando velho e sem capacidade de entender plenamente o ser humano. É difícil entrar na minha cabeça a ideia de que pessoas que ignoram as consequências dos seus atos o fazem de maneira tão natural e convicta. O que será que se passa pela cabeça delas? O que se passa na cabeça de alguém para fazer piada publicamente com uma doença tão triste, que faz muitas famílias sofrerem, de forma tão gratuita e cega? O que faz alguém fechar tantas portas por causa de uma atitude tão infantil e irracional? Enfim, esses são apenas dois exemplos bobos no meio de tanta coisa ruim que vemos todos os dias nas empresas, na política, nas redes sociais e na sociedade como um todo. Nestes casos, é óbvio que o sujeito perdeu a noção mínima de respeito, empatia, ética e moral. Triste, muito triste.
Mas, como “sou brasileiro e não desisto nunca”, sigo orientando os meus alunos, minha filha e quem mais posso influenciar, a ficarem muito atentos ao que fazem, ao que dizem, ao que escrevem e ao que deixam de fazer. Tudo tem consequências, tudo está sendo visto, lido, ouvido e avaliado. A nossa imagem pessoal e profissional se constrói dia a dia, com pequenas ações e atitudes. Demora muito para se conquistar uma boa imagem, que em segundos pode virar pó.
Portanto, hoje deixo a minha recomendação ao caro leitor. Ao se deitar à noite, faça a você mesmo as seguintes perguntas: O que você fez? O que deixou de fazer? Quais podem ser as consequências das ações ou das omissões? Até o próximo!