Artigo 308 – Cegueira de verdades

“Não julgue ou tome decisões com base em ficção”
por Marcelo Veras | 27 de mar de 2017
Artigo 308 – Cegueira de verdades

O século XXI é rápido, dinâmico e apressado. Parece que ele quer competir com o seu antecessor em velocidade. A conectividade, a internet, o wi-fi, o 3G e os smarphones deixaram tudo a um clique. Quer saber qualquer coisa, digite e clique. A resposta vem na hora, imediatamente. Isso tem o seu lado bom. Aliás, os grandes problemas do mundo exigem velocidade e agilidade. Há muita coisa a ser resolvida na sociedade, na política, no meio ambiente, na saúde, na educação e que exigem rapidez. Os problemas do mundo têm pressa e disso não discordo.

Por outro lado, essa velocidade desenfreada tem causado, paradoxalmente, um problema seríssimo. As pessoas estão com tanta pressa em tudo, que estão perdendo uma competência muito importante – a capacidade de julgamento correto. Poucas pessoas hoje analisam profundamente um fato antes de avaliar, julgar e decidir. E isso tem causado problemas enormes na vida e na carreira de muita gente. Os exemplos pipocam dia após dia. Uma pessoa é linchada na rua porque é confundida com um bandido. Um político é julgado e condenado pela sociedade antes de qualquer processo legal, uma empresa quebra por causa de um boato falso plantado por um concorrente e que todos acreditam ser verdade, teorias da conspiração viram verdades absolutas nas redes sociais e por aí vai. Basta navegar um pouco para ver como, quase instantaneamente, pessoas supostamente inteligentes e cultas acreditam, creditam e julgam fatos que surgem na internet, sem fazer qualquer análise crítica ou sequer avaliar a qualidade da fonte.

Os fatos mais presentes no nosso cotidiano são os escândalos de corrupção envolvendo praticamente todos os níveis da sociedade brasileira. Propina, caixa dois, desvio de verba pública, dentre outros. Estamos todos indignados e queremos pressa na solução destes problemas, mas notem o estrago promovido pelo escândalo da carne brasileira. Uma investigação séria, legítima e importante, mas que levada à sociedade como foi, colocou o joio e o trigo num mesmo balaio. Muita gente séria saiu bastante prejudicada sem ter cometido nenhum delito. Da minha parte, quero mais é que os culpados sofram consequências sérias, mas lamento muito pelos que estão pagando uma conta que não devem.

Na dimensão profissional vejo isso todo santo dia também. Profissionais bons e competentes em suas áreas, mas que tomam decisões equivocadas porque avaliam e julgam os fatos muito rapidamente e de maneira muito superficial. Um festival de decisões rápidas, impensadas e com uma pressa quase irresponsável.

Uma das competências que mais trabalho com meus alunos é a tomada de decisão. Debatemos muito a questão da velocidade ao se tomar decisões, importante no mundo atual, mas que nunca pode estar à frente de uma mínima boa análise. Julgamentos e decisões rápidas, só por pressa, causam desastres em empresas e carreiras. Tem muita gente boa, que poderia ter uma carreira brilhante, mas que fica estagnada pela coleção de “bolas-fora” que acumula por causa dessa pressa inconsequente. E digo mais, esse mal não tem idade. Não venham me dizer que isso é problema das gerações mais jovens. Não é. Esse problema está democratizado e não tem idade.

Portanto o meu recado hoje para você é claro: Cuidado com julgamentos precipitados. Não acredite em tudo que lê ou ouve. Não condene nem premie ninguém sem uma mínima convicção. Não compartilhe informação de fonte duvidosa. E, por fim, não tome decisões com base em fatos que possam ser irreais. Isso pode atrapalhar muito a vida de outra pessoa e vai, com certeza, atrapalhar a sua carreira. Até o próximo!

por Marcelo Veras
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