Neste quinto artigo sobre “cegueiras” quero tratar de uma muito comum – a cegueira de futuro. Esta já virou epidemia de tão contagiosa. Vejo todos os dias pessoas que tomam decisões importantes na carreira olhando para o momento presente (ou pior, para o passado) e se esquecem que muitas dessas decisões terão impacto não imediato, mas num futuro que nem sequer analisam ou param para pensar como será.
Um belo exemplo é a escolha da carreira e da faculdade. Na boa fase da economia que tivemos entre 2004 e 2008, com altos incentivos ao desenvolvimento industrial e de construção civil, os cursos de engenharia viraram a cereja do bolo. As faculdades que não ofereciam o curso pediram abertura ao MEC, os pais aconselhavam seus filhos a cursarem engenharia e por aí vai. Enfim, a demanda cresceu muito e parecia que quem cursasse engenharia teria 10 propostas de emprego ao final da faculdade. Pois bem, embora o curso de engenharia seja e continuará sendo um curso que oferece uma bela carreira, a coisa não aconteceu bem assim. A situação do país mudou, a economia sofreu um revés e a previsão não se concretizou. Um curso de graduação nessa área leva 5 anos para ser concluído e muita coisa pode mudar nesse tempo. Portanto, através deste exemplo, quero deixar claro que as decisões que impactam a nossa carreira devem sim olhar para o presente, mas isso é secundário. Normalmente, os frutos de decisões e investimentos que fazemos são colhidos mais adiante e não hoje. Logo, não olhar para o futuro pode causar grandes frustrações.
Eu e o Professor Luis Rasquilha preparamos uma palestra chamada “As profissões do futuro”. Temos compartilhado essa visão com jovens que estão na faculdade, através de um Workshop que chamamos de “Workshop Jovens Executivos”, e também tenho ministrado algumas palestras para alunos de ensino médio, principalmente, para quem está no terceiro ano e já decidindo que faculdade vai fazer. É incrível, mas quando mostramos algumas das profissões do futuro, as caras dos ouvintes se resumem em duas coisas: Surpresa e Angústia. Em que sentido? Surpresa ao ver que as mudanças tecnológicas, tais como computação cognitiva, inteligência artificial, impressão em 3D, genética, robótica e nanotecnologia vão criar profissões que nem sequer existem hoje em nenhuma faculdade do mundo. E angústia porque eles olham para essas carreiras e não veem como estudarem isso hoje, até porque não existem cursos nessas áreas. Além de questões tecnológicas, a expectativa de vida vai bater 100 anos e já estamos a caminho de 8 bilhões de habitantes na terra. Portanto, novas carreiras também irão surgir e áreas ligadas a serviços para idosos, preservação do meio ambiente e alimentação também ganharão força no mercado de trabalho. Imagine, por exemplo, uma pessoa se aposentando aos 65 anos e vivendo até os 100. O que irá fazer e demandar de serviços nestes 35 anos? Muita coisa.
Pois bem, quem não olha para o futuro comete um erro básico que pode ter impactos negativos na sua carreira. O futuro não é uma caixa preta como muitos acham. As tendências estão aí, sendo estudadas e publicadas por diversas fontes. Novas demandas estão por vir. Novas carreiras irão surgir e carreiras que existem hoje deixarão de existir. Só tem uma forma de entender isso – estudando as tendências e seus impactos no mercado de trabalho. Quem fizer isso, vai sair na frente a ser um dos primeiros a surfarem as novas ondas que estão por vir. Quem não fizer, poderá acordar um dia e descobrir que as suas competências estão desatualizadas e que o mercado não as quer mais. Até o próximo!