O que você prefere, viver infeliz onde está ou mudar, arriscar e tentar ser feliz? Olhar para as pessoas que lhe cercam e enxergar nelas verdadeiras âncoras ou viver cercado de pessoas que lhe fazem crescer? Acordar toda segunda-feira com alegria e motivação para ir trabalhar ou já acordar rezando para a sexta-feira chegar? Imagino que 99,9% das respostas (sempre existem alguém com hábitos masoquistas) seja a mesma. É claro que a segunda opção é a preferida das preferidas. Mas por que será que há tanta gente que se cerca de pesos, que se violenta todo dia no trabalho, que namora, noiva e até se casa com gente que só lhe joga para baixo? E pior, por que, mesmo sabendo que aquilo lhe faz mal, segue na tortura diária e não tem a coragem de mudar?
Dando sequência à minha série sobre “cegueira”, hoje quero tratar de uma das miopias que mais atinge pessoas e profissionais – a cegueira de valores. Esta cegueira acontece quando vemos mas não enxergamos, quando sabemos, mas não praticamos uma das máximas do relacionamento humano. Ela diz o seguinte: Uma relação, pessoal ou profissional, só sobrevive e é boa para ambos quando há sinergia de valores, ou seja, quando as crenças sobre o que é certo ou errado, bom ou ruim, são semelhantes. Quando isso acontece, a relação é saudável e pode promover muito crescimento mútuo. Quando isso não acontece, é uma tortura sem fim e a relação não sobrevive à primeira prova.
Já escrevi inúmeras vezes sobre isso. Nos meus mais de 10 anos de estudos e aulas sobre planejamento de carreira vejo isso todo santo dia. Meus alunos e ex-alunos compartilham comigo incontáveis casos de infelicidade no trabalho, com o chefe, com as práticas da empresa, entre outros. Tudo, absolutamente tudo, com a mesma causa – divergência de valores. Em outras palavras, o mundo tem significado diferente e as atitudes de um representam o que há de mais errado para o outro.
Por isso, classifico e uso hoje neste segundo artigo sobre as nossas cegueiras, esta incapacidade que muitas pessoas têm de enxergar que algumas relações precisam acabar. Não tem jeito, quando os valores não batem, tem que pegar o boné, dar o fora e o último que sair que apague a luz. Desculpem-me aqueles que acreditam que as pessoas podem mudar seus valores, mas eu não acredito. Sim, as pessoas podem mudar várias coisas, mas seus valores não. Estas crenças se formam ao longo de muitos anos e dificilmente vão mudar. Portanto, quando uma relação não vai bem por causa de conflito de valores, a minha recomendação é que cada um tome o seu caminho, preferencialmente em sentidos opostos.
Como se livrar desse tipo de cegueira? Simples. Basta olhar para todos os que o cercam e fazer a seguinte pergunta: O que essas pessoas mostram do seu caráter e dos seus valores nas suas atitudes? Sim, nas atitudes, não nas palavras. Falar é fácil. Muitos dizem que acreditam nisso ou naquilo, que possuem tais e tais valores, mas nas ações mostram que as palavras valem menos do que 1 Kg de batata. Portanto é observando as atitudes das pessoas que enxergamos com clareza quais são os seus valores e a sua forma de lidar com os outros e com a vida. Isso exige apenas concentração e não é tão difícil. A segunda parte é a mais importante de todas. Quando você enxergar um forte conflito de valores com alguém próximo e que influencia a sua vida, vem a parte mais difícil – se afastar. E essa é uma escolha bem desafiante. Quebrar relações não é fácil, mas como vivo dizendo, a vida é feita de escolhas e renúncias. E garanto, as pessoas mais felizes que conheço são aquelas que souberam fazer as renúncias corretas e deixaram para trás as âncoras que carregavam nas costas. Não tem, pode acreditar, sentimento melhor que se livrar de âncoras. A vida toma outro rumo e logo logo a dor do rompimento passa e só fica uma pergunta na cabeça: Por que não fiz isso antes? Até o próximo!