Artigo 301 – Palavrite

“Não sei o que anda mais comum hoje em dia, político corrupto ou pessoas com essa doença”
por Marcelo Veras | 06 de fev de 2017
Artigo 301 – Palavrite

Carlos é um profissional competente e experiente. Em função da crise, perdeu o emprego em 2016. Uma grande empresa do setor em que tem muita experiência o chamou para uma entrevista. Ele foi. Bateu um papo com o presidente, que disse que gostou muito da conversa e que ele deveria voltar para conversar com outro diretor. De conversa em conversa, o Carlos voltou à empresa 5 vezes, cada uma delas para conhecer e conversar com uma pessoa diferente. Foi ficando animado e dando como certa a sua contratação. Depois disso, nunca mais foi contatado. Nem um retorno qualquer dizendo que não seria contratado. Ninguém mais (nem o presidente) respondeu seus emails. Como se todos tivessem morrido ou sido abduzidos por ETs.

Recentemente eu iniciei, a pedido de uma pessoa, uma conversa sobre um projeto conjunto entre nossas empresas. Fizemos umas cinco reuniões para discutir pontos de convergência, desafios e oportunidades complementares, até que chegamos a um projeto inicial com ganho para ambos. Montamos um cronograma e dividimos as responsabilidades. Estabelecemos um prazo de uma semana para enviarmos o que cada um ficou de fazer. Enviei o meu documento na data combinada e, há exatos 3 meses, o cara sumiu e não falou mais nada, de novo, como se tivesse morrido ou sido abduzido por alienígenas.

Também recentemente, outra pessoa fez uma reunião comigo e apresentou um projeto fantástico. Trata-se de uma pessoa muito competente e ambiciosa, características que adoro. Dei minhas opiniões sobre o projeto, consensamos os pontos principais e dei sinal verde para elaborar o documento final para eu aprovar o orçamento com meus sócios. Até hoje... lá se vão seis meses. O mais “legal” é que de vez em quando eu encontro com a pessoa. Nós nos cumprimentamos, conversamos e o assunto parece que não existe. Certa vez, até me perguntei: “Será que eu sonhei com essa conversa e ela não existiu?”

Escreveria um livro de 600 páginas só com casos como este (livro que, decerto, ninguém iria querer ler!).  Este é um assunto que debato costumeiramente com alguns amigos próximos, que assim como eu, mantém o hábito raro de falar o que faz e fazer o que fala.  Confesso, com toda sinceridade, que tenho dificuldade de entender o fenômeno. Tanto é que, em uma dessas conversas com meu amigo Max, batizamos essa doença de "palavrite". Isso mesmo: Palavrite! É uma inflamação aguda na palavra. Aqueles que sofrem desta doença crônica (e são muitas pessoas) também cometem palavricídios, ou seja, um assassinato da palavra que sai da sua boca. Em outras palavras, quem sofre disso, não merece nenhuma confiança, porque diz ou promete algo e, minutos depois, realiza uma cirurgia de lobotomia e esquece o que falou. É cômico, se não fosse trágico.

A primeira competência comportamental que trato com meus alunos nas minhas aulas de planejamento de carreira é exatamente esta – Confiabilidade. “Fala o que Faz e Faz o que Fala”. Tão simples e, ao mesmo tempo, tão rara atualmente.

Sigo colecionando casos como os três que citei e batendo nessa tecla como um papagaio. Muito cuidado com o que você fala ou promete. Se falou, faça. Se prometeu, cumpra. Se não pode cumprir, não prometa. Não sofra de palavrite. Essa doença destrói a sua imagem, gera insegurança e desconfiança de todos para com você. E tem mais, fuja de pessoas que sofrem dela. Elas só nos fazem perder o nosso tempo, que vale ouro. Um abraço e até o próximo!

por Marcelo Veras
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