Artigo 284 – Conflito de valores – Um dilema sem solução

“Vale a pena se violentar todo dia no trabalho?”
por Marcelo Veras | 10 de out de 2016
Artigo 284 – Conflito de valores – Um dilema sem solução

- Olá Professor, tudo bem? Aqui é o Miguel, seu ex-aluno. – disse ele ao telefone;

- Olá Miguel, tudo bem. E com você? Como andam as coisas? – respondeu o professor;

- Você tem uns minutos, professor? Preciso ouvir a sua opinião sobre algo muito importante.

- Claro, estou no carro, mas no viva-voz. Posso falar. O que você conta?

- Professor, estou num dilema terrível que está me tirando o sono e gostaria de ouvir a sua opinião. Lembra que falei que fui recentemente contratado e que assumi um desafio novo na área comercial?

- Claro que lembro, Miguel. Como estão indo as coisas? – perguntou o professor;

- Pois é, não estão indo nada bem! O setor tem características muito peculiares e práticas com as quais eu não estou acostumado e não concordo. Tudo é meio obscuro, sabe? Tudo funciona na base da propina e dos acordos escusos. Somos fornecedores para empresas grandes e os compradores costumam cobrar comissões, favores, jantares, entre outras coisas. Funciona assim: Quem oferece essas benesses leva. Quem não oferece ou não vende ou demora mais para vender. No meu caso, tenho procurado fazer o meu trabalho de forma honesta e séria. Temos um bom produto e acredito que teremos um desempenho satisfatório mesmo sem ter que nos submeter a isso, mas acontece que o meu chefe, que já está nesse setor há anos, deixa claro que o jogo é esse, que ele até gosta dessa dinâmica e está me cobrando uma postura diferente em relação a como me relaciono com meus clientes. Na última reunião, deixou claro que preciso mudar a minha postura, entrar “na dança” e corromper quem tiver que corromper para fechar negócios. E isso, mestre, está me tirando o sono.

- Entendo. – disse o professor;

- Pois bem, preciso do salário, quero fazer um trabalho sério, mas estou num verdadeiro dilema. Não sei como convencer o meu chefe que há um outro caminho e que podemos ter resultados sem cair nessa vala da corrupção. O que o senhor acha?

- Miguel, se você me ligou e pediu a minha opinião é porque quer ouvi-la. Portanto vou ser claro e direto como sempre. Comece a procurar outro emprego. Pelo pouco que que me contou, ainda mais sendo o seu chefe direto um admirador dessa prática, esquece.

- Entendo. Mas, será que não haveria uma estratégia para convencer o meu chefe de que ele está errado e que é possível vender sem ter que dançar essa música? – Insistiu Miguel.

- Olha, Miguel, você pode até tentar conversar com o seu chefe, mas como você mesmo disse, ele insiste que você entre no esquema. Portanto, creio que será muito difícil mudar a sua posição. Mas me responda uma coisa. Você acha que consegue fechar algum negócio rapidamente sem ter que comprar ninguém?

- Não, professor. Rapidamente, não. Por isso ele me pressiona tanto para usar os meios que tiver que usar para vender.

- Então, meu caro. De duas, uma. Ou você adere à prática e fica se violentando todo santo dia, ou começa já a procurar um lugar onde você possa emprestar as suas competências sem ter que sentir vergonha ao se olhar no espelho.

- Obrigado, mestre. No fundo, eu já sabia a sua opinião. Obrigado.

Pois bem, essa é uma história real. Analise, forme seu juízo e tire suas conclusões. Até o próximo!

por Marcelo Veras
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