Artigo 280 – Paternidade e Carreira

“Pais também sofrem ”
por Marcelo Veras | 12 de set de 2016
Artigo 280 – Paternidade e Carreira

Recentemente fiz uma pesquisa com mães para medir o tempo médio dedicado aos filhos versus o tempo dedicado ao trabalho, bem como a sua disposição a largar tudo para ser somente mãe. Os números já foram publicados aqui, mas vale rever os principais dados. Elas trabalham em média 8,5 horas por dia e dedicam apenas 4,5 horas aos filhos. Entre outras descobertas, a mais impressionante foi que 42% deixaria de trabalhar (se a condição financeira permitisse) para se dedicar 100% aos filhos.

Em mais uma enquete concluída na semana passada, dessa vez fiz algumas perguntas a pais com o objetivo de avaliar o nível de satisfação deles em relação ao tempo que dedicam aos filhos e o equilíbrio da paternidade com o trabalho.

Os resultados mostram claramente que a pressão por resultados, a competitividade e a situação de instabilidade o que país passa nos últimos anos, tem deixado todos com o que chamo de “ponteiro no vermelho”. Com os homens, ainda maioria como os principais provedores, a pressão tem levado a jornadas de trabalho longas e uma gestão do tempo praticamente inviável, além de comprometer muito seu tempo e dedicação aos filhos.

Nesta pesquisa, homens com idade média de 39,5 anos e que são pais, trabalham em média 9,1 horas por dia, de segunda a sexta, e dedicam 3,5 horas em média aos filhos. Se as mães não estavam satisfeitas com o tempo dedicado aos filhos, veja a situação dos pais. Outro dado interessante é que 42% deles afirmam que já perderam uma atividade importante dos filhos (atividade na escola e até aniversário) em função do trabalho. Já quando questionados sobre a satisfação em relação ao tempo que dedica aos filhos, apenas 20% está muito satisfeito, sendo que 31% não está nada satisfeito.

Bom, para quem achava que a tecnologia chegaria para nos dar mais tempo, fica a provocação. Se ela facilitou muitas coisas, por outro lado o crescimento da população e a competitividade global nos levou a uma situação de extrema pressão por resultados, como consequência, jornadas de trabalho que crescem a cada ano. Não fico surpreso, até por ser pai, com os resultados dessa pesquisa. Creio que reflete bem a situação do homem moderno e mostra claramente que não encontramos ainda um equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Nas minhas aulas de planejamento de carreira discuto muito isso com meus alunos. Até onde devemos abrir mão de questões pessoais em prol da carreira, do cargo, do status e da conta bancária? Qual deve ser o freio? Qual deve ser o limite?

Como sempre digo aqui, as contas chegam. Podem demorar, mas chegam. Neste caso, já ouvi muita gente me dizer que se arrepende de não ter participado mais da vida e do desenvolvimento dos filhos e que faria diferente se pudesse voltar atrás. O problema é exatamente este – há pessoas que só caem na realidade quando é tarde demais. Daí não tem mais volta, porque relógio só anda para frente.

Por fim, fica a reflexão e os dados que não mentem. Os homens trabalham quase 3 vezes mais do que ficam com seus filhos. Apenas 20% deles está satisfeito com isso e enquanto escrevo este artigo o relógio anda, anda e anda. E a minha linda Júlia cresce, cresce e cresce. E a pergunta que fica é: Será que realmente não há uma saída para essa equação? Será que não dá para equilibrar melhor paternidade e carreira? Até o próximo!

por Marcelo Veras
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