O mundo insiste em nos impor definições fechadas, padrões a serem seguidos e réguas para medir isso ou aquilo. Com o termo “sucesso”, não é diferente. Nas minhas aulas de planejamento de carreira, sempre começo com uma questão aos meus alunos: Defina sucesso profissional. As respostas são muito variadas, quase individuais. Depois da discussão e do espaço para cada um colocar seus pontos de vista, compartilho a minha visão pessoal, a qual defendo com duas histórias.
A Dona Zezé trabalhou na minha casa por anos como empregada doméstica. Um amor de pessoa. Cuidadosa, responsável, eficiente e amigável. Ela nasceu e cresceu na favela. Não chegou a completar o ensino fundamental. Com muito custo, criou um filho. Foi mãe, pai e todo o resto. Se virou sozinha, ganhando pouco, acordando às 5h da manhã e trabalhando literalmente três turnos. O seu filho cresceu, teve uma educação pública mediana, nunca se envolveu com drogas ou qualquer outro delito e chegou à faculdade. Um belo dia, a Dona Zezé se veste com a melhor roupa que tem e vai para a festa de formatura do filho como advogado. Pergunto para você: A Dona Zezé é uma pessoa de sucesso? Sim ou não?
Já em outro caso, que por razões óbvias não posso citar o nome, um homem nasce em uma família de classe média, tem uma ótima educação, forma-se em Administração, faz intercâmbio para o exterior, entra como Trainée em uma grande empresa, tem uma carreira rápida e ascendente. Encontra a mulher da sua vida, casa, tem um filho. Mas o trabalho e as viagens constantes lhe consomem. Praticamente não convive com o filho, fica pouco tempo com a esposa, não cuida da saúde. Mas a conta bancária só engorda, e muito. Promoções e mais promoções. Bônus e mais bônus. Um belo dia, o casamento acaba, sua ex-esposa conhece outra pessoa e começa uma nova família. Seu filho quase o acha um estranho, de tanta distância e raridade dos encontros. A saúde vai mal e sinais de depressão começam a surgir. Mas a conta bancária, o carrão e o belo apartamento seguem lindos e maravilhosos.
Pergunta: Esse é um homem de sucesso?
Bom, creio que não preciso detalhar muito a minha opinião. Os meus alunos acham estranho, logo na primeira aula, discutirmos essa questão. Mas ela é, para mim, essencial para qualquer discussão futura sobre carreira, objetivos, metas profissionais e financeiras. Não vejo nenhuma inteligência em pensar na vida, carreira e finanças pessoais de forma separada. Muito menos planejar estes pilares e tomar decisões sem pensar muito sobre os impactos de um sobre os outros.
Portanto, hoje tenho algumas convicções. A primeira é que a definição de sucesso não é universal, mas sim pessoal e intransferível. O que é sucesso para mim pode não ser para você e vice-versa. Segunda, que o sucesso é um estado e não uma condenação eterna. Posso ter sucesso em um projeto e não em outro. Isso não me torna melhor nem pior do que ninguém, até porque não existe uma alma viva na terra que nunca tenha falhado em algum objetivo.
Por fim, fico com com a minha conclusão sobre os dois casos que relatei. Com a minha régua, a Dona Zezé é um exemplo de grande sucesso, porque estabeleceu um objetivo (por sinal, bem nobre) e chegou lá. Já o executivo rico, garanto que dorme todo dia com o arrependimento em baixo do travesseiro. E isso, no meu dicionário, é qualquer coisa, menos sucesso. Até o próximo!