Na semana passada, fui convidado para uma feira de profissões em uma escola de Educação básica. Adoro falar com alunos de ensino médio e não recuso um convite para discutir a escolha da carreira com essa galera de 16 a 18 anos de idade. Acho esse momento mágico e, ao mesmo tempo, angustiante. Já passei por ele e sofri muito. Escolher uma carreira nessa idade é muito difícil.
Antes da minha fala, uma psicóloga fez a sua palestra e disse várias vezes que não se pode errar na escolha do curso de graduação. Falou que existem métodos, dinâmicas e testes que “garantem” uma escolha correta. O seu discurso foi muito duro e a sua apologia ao “não errar” deixou os ouvintes aterrorizados. Poucas vezes na minha vida discordei tanto do que ouvi, embora respeite a opinião da profissional. Juro que fiquei extremamente incomodado com a postura absolutista como o tema foi tratado. Como se quem errasse na escolha do curso na inscrição do vestibular fosse ser condenado à infelicidade pelo resto da vida.
A minha fala, lodo depois, era sobre gestão de carreira e profissões do futuro. Segui o meu cronograma, mas mudei radicalmente a forma e a ênfase que dei a cada subtema após ouvi-la. Comecei contando a minha experiência (sofrida) quando tive que decidir o curso que ia fazer. Contei também que escolhi cursar engenharia química sem ter 100% de convicção. Além disso, contei em detalhes como foi o meu processo de descoberta da administração e do marketing ainda cursando engenharia química – e como mudei a minha carreira para administração mesmo tendo me formado em engenharia. E ainda, como não me arrependo de ter cursado engenharia, mesmo nunca tendo exercido a profissão.
A profissional que falou antes de mim, que também me assistiu, notou claramente que estava indo 100% contra a sua fala. Disse claramente que a escolha que se faz na época do vestibular não determina o nosso futuro. Falei para os alunos que sim, devemos tentar acertar de primeira, mas que quem errar não precisa se suicidar (ouvi risos nessa hora). A nossa vida muda muito. A nossa cabeça muda muito. E tudo isso pode nos levar a descobrir coisas novas, desejos novos e novas perspectivas profissionais ao longo do tempo, principalmente durante a faculdade. Disse ainda que arriscaria dizer que mais de 50% das pessoas não trabalham nas áreas em que cursaram a faculdade.
Logo depois, apresentei uma dezena de profissões do futuro. Carreiras que nem sequer as pessoas conhecem, mas que vão dominar o mundo nas próximas décadas. Esse estudo, feito pelo meu amigo e sócio Luis Rasquilha, é fantástico e altamente embasado nas tendências de futuro. Os olhos dos alunos brilhavam ao conhecerem cada uma dessas novas profissões que estão por vir. Conselheiro de aposentadoria, Gestor de Trends&Innovation, Mecânico de robô pessoal, Controlador de Drones, Jardineiro urbano, controlador de nuvens e por aí vai. Carreiras que irão surgir e que sequer há cursos de graduação disponíveis hoje.
Ora, se existem carreiras que chegarão e que ainda não se conhece, como alguém pode definir com precisão, aos 17 anos, o que vai fazer no resto da vida? Impossível. O que eu disse claramente, como conselhos, ao final da minha fala foram duas coisas:
- Novas profissões irão surgir, mas as carreiras clássicas irão continuar fortes, mas em transformação. Medicina, Direito, Engenharia e administração, por exemplo;
- Acho prudente, e aqui fica a minha dica para pais ao aconselharem seus filhos, que se escolham carreiras mais amplas e que permitam uma maior amplitude de atuação. Sou fã de cursos menos específicos na graduação e que permitam maior mobilidade. Quem quiser se especializar em algo, pode fazer isso nas pós-graduações e ao longo da carreira.
Por fim, acho que a escolha da carreira não pode se transformar em um martírio ou numa condenação eterna, até porque pouca coisa no mundo é. Até o próximo!