Quando iniciei a minha carreira aos 22 anos, em uma grande empresa multinacional, logo descobri que havia ali uma equipe (envolvendo o RH, a diretoria e até mesmo o presidente) e um processo que mapeava em todos os níveis da empresa profissionais com potencial para assumir cargos de liderança no futuro. Esses possíveis líderes, quando identificados através do processo de avaliação de desempenho, eram convidados para treinamentos diferenciados, para participarem de projetos especiais e eram acompanhados mais de perto. Quando esta empresa pagou a minha primeira pós-graduação, me senti honrado e incluído nessa lista, que eles chamavam de “High Potential”. Confesso que no início achei isso meio estranho e exagerado. “Por que esta preocupação em mapear e preparar líderes desde tão cedo? Não é possível que numa empresa com 13.000 funcionários (números da época) não existam dezenas de pessoas prontas para assumirem qualquer cargo em qualquer momento!” Assim eu pensava, e o tempo me mostrou que estava completamente enganado.
Hoje, enquanto escrevo esse artigo, o senado brasileiro vota o afastamento da presidente da república. As últimas semanas foram, ao mesmo tempo, patéticas e reveladoras para o nosso país. Patéticas porque ficou claro que a nossa democracia e o nosso sistema político estão longe, muito longe, de refletirem os desejos da sociedade. Não é à toa que o Brasil, além de estar enterrado numa crise gigantesca, com 8.000 pessoas perdendo o emprego por dia e com a situação econômica num completo caos, ainda virou motivo de chacota no exterior. As sessões no congresso, o perfil dos nossos representantes, as estratégias de ataque e defesa de quem é contra ou a favor, enfim, uma lamentável piada de mal gosto que chega e nos envergonhar. Por outro lado, e para mim mais importante, o momento é revelador porque mostra claramente um problema seríssimo do nosso país – a escassez de líderes. Hoje temos um país com diversas alternativas de novos líderes, mas todas, até agora, entre o ruim e o péssimo. Ou seja, todas as opções representam (praticamente) mais do mesmo.
Com todos, ou quase todos com os quais conversei sobre a crise atual e o impeachment, o final da conversa era sempre o mesmo: “Pena que não temos ninguém que tenha a envergadura que o Brasil precisa no momento”. Se pararmos para pensar, é a pura verdade. Diga-me um nome, um único nome, de um político 100% ficha limpa, 100% ético e 100% preparado tecnicamente para nos liderar um processo de retomada de um bom rumo. Ok, você pode até me questionar dizendo que ninguém é 100% em nada, o que concordo plenamente, mas se deixarmos a emoção de lado, quantas e quais opções de boas lideranças temos hoje? Se tivéssemos outras eleições hoje, qual seria um nome forte e que conseguiria unir o país e liderar essa nossa grande nação?
Esta, para mim, é uma das maiores lições desse momento. Hoje entendo perfeitamente que as empresas que preparam boas lideranças desde cedo são as que mais têm condições de se perenizar. O mesmo vale para um clube de futebol, uma equipe olímpica, um partido político ou uma organização não governamental. Preparar bons líderes não é só uma estratégia básica de gestão de pessoas, é uma condição básica de sobrevivência no longo prazo.
No Brasil, padecemos de uma completa escassez. Em várias empresas, também. Aliás, muitas empresas desaparecem do mercado (principalmente algumas empresas familiares) porque não preparam líderes para assumirem o legado com competência, preparação e envergadura.
Esta é a minha reflexão de hoje. E ela vale para as empresas e, principalmente, para o nosso país. Estamos carentes porque não temos uma boa formação de bons líderes. O nosso estoque hoje é praticamente zero, infelizmente.
Espero e torço para que as lições dessa crise e desse momento político deixem um legado e uma mensagem clara para todos – “Quem não prepara líderes para o futuro não terá futuro”. Até o próximo.