Há dez anos estudando sucesso profissional e planejamento de carreira, tenho defendido arduamente que o resultado do que acontece com a nossa carreira é mais fruto de preparação do que de fatores extracampo (sorte, destino, genética, mão divina, acaso, entre outros). Tenho tido embates (no bom sentido) com muitos amigos, familiares, alunos e colegas de trabalho. Respeito profundamente cada opinião diferente da minha e adoro debater com pessoas inteligentes, ponderadas, bem informadas e que tenham opinião diferente. Sempre aprendo muito. Embora todos os meus estudos me levem para uma opinião convicta de que qualquer um pode desenvolver as competências que quiser e usa-las a favor da sua carreira, algumas teses de talento inato e habilidades naturais são muito boas e convencem muitos, embora, como sempre digo, temos que administrar o que temos e não o que não temos. Para mim, quem acredita que fatores externos são mais determinantes para o sucesso do que o nosso trabalho e preparo, resta pouco a fazer a não ser torcer.
Na semana passada, em uma reunião com dois amigos e parceiros de negócio que respeito muito, estávamos iniciando o desenvolvimento de um novo programa de formação de profissionais de vendas. Quando a discussão chegou nas competências comportamentais não demorou para chegarmos nessas crenças em relação a preparação x sorte e sobre talento inato x competências desenvolvidas. Deixamos a conversa fluir e fomos nos “digladiando” com argumentos e pesquisas recentes sobre o papel da sorte no sucesso profissional. A conversa foi muito boa. Quase um consenso, exceto pela dose do papel da sorte na equação do sucesso. Para mim, próxima de zero. Para eles, um pouco mais relevante. Mas isso não importa muito. O que marcou essa conversa foi um depoimento de um deles sobre um dos maiores jogadores de pôquer do Brasil. Ele contou que em uma conversa que teve com esse jogador, fez a seguinte pergunta: “Cá entre nós, pôquer é mais sorte ou competência?”. Repito, estávamos falando de um dos maiores jogadores do Brasil, premiado, reconhecido e que já ganhou tudo o que tinha que ganhar. A resposta, segundo ele, foi muito interessante. Repito aqui com todas as letras: “Olha, o sucesso no pôquer depende muito de sorte, mas tem uma coisa: Quando você é bom e está com sorte, ganha muito. Quando é bom e está com azar, perde pouco. Agora, quando você é ruim e está com sorte ganha pouco e quando é ruim e está com azar, perde muito”.
Olha só que interessante. Todos nós sabemos que os jogos de baralho envolvem sorte. Se você sai com boas cartas logo de saída, tem mais chances de ganhar. Mas a forma como usa estas cartas e a estratégia de jogo também determinam o sucesso. Ou seja, qualquer jogo de baralho envolve sorte combinada com competência, que se obtém com treino e preparação, certo? Pois bem, o que essa resposta interessantíssima nos mostra é que, mesmo nas situações que envolvam variáveis incontroláveis, quando a sorte ou o azar encontram a preparação ou o despreparo, os resultados são bastante previsíveis.
Portanto toda vez que alguém me questiona sobre a minha convicção a respeito da importância da preparação, sempre repito que estar bem preparado não é uma opção, é uma obrigação, mesmo para aqueles que acreditem, em maior ou menor grau, em sorte ou acaso. Se sorte existe ou não na gestão da carreira (eu prefiro acreditar que não), na minha visão cumpre um papel secundário nos resultados alcançados. A cada nova entrevista que faço na minha pesquisa que completa 10 anos e a cada novo estudo que tenho acesso sobre sucesso na carreira, mais convencido fico do preponderante papel das competências. E para quem acredita em sorte, fica a provocação: Ela pode encontrar preparados ou despreparados. Até o próximo!