Em 1990, estava concluindo o primeiro ano do meu curso de Engenharia Química na minha querida UFU – Universidade Federal de Uberlândia. Como todo jovem de 18 anos, com certa dose de rebeldia, vontade de mudar o mundo e visão crítica aguçada (nem sempre bem embasada), fui pras ruas. Engrossei a fila dos Cara-pintadas que foram aos milhares pedir o impeachment do Collor. Foi um momento histórico. O país parou, se uniu e disse chega! O Pano de fundo? O mesmo de hoje – corrupção. Só que naquela época os valores roubados tinham uns zeros a menos do que hoje, pelo menos era o que sabíamos.
Há três anos o filme voltou a ser exibido. As primeiras manifestações, pouco antes da copa das confederações, mostraram que a temperatura da panela estava aumentando. De lá pra cá só ferveu ainda mais. O primeiro clímax do filme aconteceu no último domingo, com a votação do impeachment da presidente atual na câmara dos deputados, o (suposto) templo de representação das nossas opiniões e crenças. Afinal, todos os 511 que falaram na tribuna foram colocados lá por nós.
O perfil médio dos nossos representantes é de dar dó. Acompanhei voto a voto, sem piscar, e confesso que, pela primeira vez, senti vergonha. Vergonha de quase tudo. Dos sucessivos erros de português, do uso falso e excessivo do nome de Deus, da cuspida na cara de oponente, do elogio a torturador da ditadura, do elogio à honestidade do marido, preso no dia seguinte e de tantas outras coisas que mostram aonde chegamos com o sistema político que temos – no fundo do poço.
Os defensores do impeachment ganharam, mas perderam. Independente do que aconteça, este processo terá sempre uma mancha preta que tira parte (ou total) legitimidade de qualquer vitória – o perfil e a trajetória do vencedor. Neste caso, parte das lideranças que conduzem o processo, bem como a maioria dos senhores deputados, possuem credibilidade zero para conduzi-lo, seja na câmara, no senado e até mesmo, como defendem alguns, no supremo. Diferentemente de 1990, esse momento está manchado pela falta de credibilidade dos líderes. E essa é uma lição importante para a nossa carreira. Já escrevi uma série inteira sobre Liderança e todos sabem que as palavras convencem, mas os exemplos arrastam. Os líderes devem ser os primeiros a darem o exemplo. Sem um exemplo pessoal forte, constante e consistente, nenhum líder constrói a principal habilidade dessa competência – a capacidade de mostrar o norte e convencer as pessoas a segui-lo. Todos, absolutamente todos os grandes líderes da humanidade foram pessoas que, acima de tudo, deram o exemplo. Faziam o que falavam e falavam o que faziam. No nosso caso, o abismo entre discurso e ação é tamanho do litoral brasileiro. Uma pena...
Mas, como sempre digo, o fundo do poço é a oportunidade de se encostar o pé na lama e ganhar o impulso para sair dela. Na nossa política, sigo acreditando que a sociedade brasileira irá promover a mudança que precisamos e uma renovação gigantesca nos quadros dos nossos representantes. Nas empresas, acho também que é um momento de reflexão para todos os líderes, mesmo que liderem um único estagiário. Se você lidera uma equipe, independente do tamanho, aproveite esse momento para se perguntar duas coisas:
- Será que estou fazendo o que falo e falando o que faço? Será que as minhas ações concretas estão coerentes com o que tenho pedido e cobrado da minha equipe?
- A minha equipe me reconhece como um verdadeiro líder e está dando o seu máximo pela causa ou projeto que lidero?
Na política brasileira atual, já sabemos a resposta. Na sua carreira, quem tem de descobrir é você. Até o próximo!