Artigo 254 – Guerras inúteis

Mais uma vitória como esta e eu estou perdido
(Pirro, 279 a.C.)
por Marcelo Veras | 14 de mar de 2016
Artigo 254 – Guerras inúteis

Em 279 a.C., o comandante grego Pirro liderou a sua batalha mais difícil. Ao defender a região da Apúlia, na Itália, lutou contra 6.000 romanos durante dias. Essa batalha ficou conhecida como a Batalha de Ásculo. Literalmente em desvantagem, mas com muita garra e estratégia, Pirro venceu os romanos. Mas perdeu 3.500 homens. Seus melhores generais, muitos amigos e seus melhores guerreiros. Ainda no campo de batalha, exausto e ensanguentado, olhando para aquela multidão de corpos, Pirro foi abordado por um do seus que disse: “Parabéns, vencemos!”. Pirro respondeu aos parabéns com uma frase que cruzou séculos e é usada até hoje: "Mais uma vitória como esta, e estou perdido."

Esta frase ganhou a notoriedade mundial que tem hoje porque reflete a mais pura realidade de um erro que todos nós cometemos pelo menos uma vez na vida. Alguns, insistem e continuam o cometendo, mesmo depois de duras lições. Mas que erro é este? O erro de entrar em guerras onde mesmo que se vença, não vai resolver nada e a sensação será de derrota.

Pirro, ao dizer o que disse, entendeu a duras custas que há guerras que não valem a pena. Há guerras que são tão sem propósito que, mesmo que você ganhe, você perde. Mas como assim, ganhar e perder ao mesmo tempo? Simples de entender. Pare um pouco e pense. Você já entrou em uma discussão ou em uma briga (familiar, por exemplo) onde o desgaste foi tão grande, mas tão grande, que ao final, mesmo que você tenha “vencido”, ficou aquela sensação péssima de uma quase derrota? Sabe quando a gente briga, briga, briga e não resolve nada? Pois bem, foi isso que aconteceu com Pirro. Ele venceu, mas o custo foi tão alto, mas tão alto, que a sensação foi de derrota. No caso dele, foi pior ainda, porque ele perdeu a maioria dos seus homens numa batalha que poderia ter sido evitada ou adiada. Os romanos, em breve, poderiam ter enviado outra legião e lutar com força majoritária. Ou seja, foi uma batalha em vão.

Na vida e na carreira, todos os dias, somos convidados (ou convocados) para algumas batalhas. Tem gente querendo brigar conosco por causa de ideias conflitantes. Tem gente querendo brigar conosco por causa de poder. Ou por inveja. Não falta motivo para embates. Em outras palavras, para quem quiser, tem “batalhas de Pirro” todo santo dia. A questão é: Em quais vale a pena entrar? Será que vale mesmo a pena entrar em guerras que vão consumir toda a nossa energia, nosso tempo? Será?

Recentemente escrevi aqui neste mesmo espaço um texto que tangencia essa questão. Citei até um trecho da música dos Titãs – Os cegos do castelo e uma frase linda do refrão que diz “Dos cegos do castelo, me despeço e vou”. Em outras palavras, tem horas que o melhor a fazer é não lutar, não brigar, não insistir. O termômetro para isso é simples. Basta você pensar e se fazer a seguinte pergunta: Quanta energia vou colocar nisso e qual vai ser o retorno? Mesmo que essa batalha seja ganha, qual será o custo? Vale mesmo a pena, ou estarei lutando, assim como Pirro, em uma guerra que já está perdida? Uma boa reflexão, não acha?

Pela enésima vez repito: O nosso tempo e, principalmente, a nossa energia são muito valiosos e escassos para usarmos em brigas que não vão dar em nada.  O melhor a fazer? Escolher muito bem, antes de começar, em quais “batalhas” da vida e da carreira realmente devemos nos jogar de corpo e alma. Às vezes algumas pessoas passam meses e até anos tentando mudar a cultura da empresa onde trabalha ou a postura errada de pessoas à sua volta e, quando acordam um belo dia, percebem que estão tentando enxugar gelo. Mas aí já se foram anos, cabelos brancos, desgastes, brigas e tudo mais. Pra quê? Pra nada.

A lição está dada. Pirro mandou esse recado para nós há mais de 2.000 anos. Não entre em guerras inúteis. Elas só servem para lhe fazer perder tempo, energia e foco no que realmente vale a pena. Até o próximo!

por Marcelo Veras
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