“Uma pergunta que deve ser feita todo dia ao final do expediente”
Na semana passada, assisti uma palestra de um amigo e parceiro, Ricardo Basaglia, diretor executivo da Michael Page, maior empresa de recrutamento do Brasil. Em certo momento da sua fala sobre gestão de carreira em tempos de crise, fez uma pergunta cruel aos presentes: - No final do dia, você é centro de custo ou de receita para a sua empresa? Em outras palavras, ele perguntou se cada um de nós realmente agrega valor para a empresa que trabalhamos ou não. Se neste momento, difícil para muitas empresas, estamos ajudando-a a sair da crise trazendo mais clientes, receita, ajudando a reduzir custos ou não. O silêncio foi perturbador. E para completar a “paulada”, concluiu dizendo que “quem não tem a resposta na ponta da língua, provavelmente está no primeiro grupo”. Mais uma vez, o silencio pôde ser ouvido.
A palestra foi fantástica e provocou muitas reflexões nos presentes. Além dessa já citada, houve outra bem interessante. Ele disse que, em situações de crise, muitos profissionais sucumbem e perdem o equilíbrio emocional. Conclusão: tem gente que manda muito bem quando os recursos são abundantes mas travam quando chega uma crise e tem que “tirar leite de pedra”. Uma frase dele que adorei foi a seguinte: - Na crise, separamos os adultos das crianças. E teve outra ainda melhor: - Quando a maré fica baixa, vemos que está vestido e quem está pelado.
Outro dado interessante sobre o mercado de contratações em tempos de crise: Segundo ele, 80% das contratações hoje são feitas para substituições e apenas 20% para expansão de negócios. Sem crise, ele afirma que é o oposto – 80% das contratações para expansão e 20% para substituição. Ou seja, na crise as empresas demitem mais por desempenho, não apenas por uma mera questão de corte de custos, e vão ao mercado buscar um profissional com mais pegada, mais equilíbrio emocional, mais “mão na massa”, pessoas que entendem que na crise é preciso fazer mais, procurar mais oportunidades e trabalhar mais forte com seu time, gastando menos e vendendo mais ou ajudando a vender mais, independente da área em que se trabalha. Em momentos difíceis, não tem essa de achar que porque eu trabalho na área financeira ou na produção não preciso ajudar a vender. Precisa sim. Nesses momentos quem não fizer movimentos para ajudar o time de vendas a fazer mais negócios, entra na fila das demissões, independente da área em que trabalha.
Esse deve ser o meu terceiro ou quarto texto sobre o momento que vivemos. Tenho acompanhado de perto os efeitos da crise na carreira de alunos, ex-alunos e pares do mercado. Por um lado, tenho visto muitas pessoas qualificadas perdendo o emprego. Por outro, conheço pessoas que, neste momento, estão recebendo mais propostas de emprego do que recebiam antes da crise. Paradoxal, não acha? Mas é fato. Sei que em muitos casos, talvez a maioria, as empresas estão cortando custos e cancelando projetos e investimentos, afetando pessoas envolvidas nos mesmos. Mas é enorme a quantidade de empresas que estão em busca desse perfil de profissional (casca grossa) para compor seus quadros nesse momento. Acredite, é verdade.
Como já enfatizei aqui, as crises ensinam muito. O preço é alto, mas o aprendizado também. Portanto, independente de como você está profissionalmente nesse momento, é hora de refletir e tirar lições. A crise vai passar. Todas passam. Mas as lições precisam ser tiradas, para que na próxima crise possamos cometer novos erros, mas não os mesmos. Assim é a vida. Caímos, levantamos, caímos de novo e levantamos de novo. Só não dá para parar, muito menos desistir. Saiba que não há um único profissional de sucesso que não tenha colecionado alguns tombos. Ainda mais em um país como o Brasil, que ainda tem um caminho longo para se tornar um lugar mais estável e próspero. Não desanime nesse momento. Ao contrário, arregace as mangas e coloque a faca no dente. É hora de mostrar a sua força. Até o próximo!