“Exemplo ruim também cria uma legião de seguidores”
Nesta semana, ao entrar no vestiário da academia após meu treino, ouvi algo que, além de revoltante, me fez pensar muito e escrever este texto. Enquanto abria o meu armário para pegar minha mochila, um outro aluno da academia falava em voz alta ao telefone: - Isso, vamos em frente e tentar fechar o negócio nessa semana. A construtora topa parar R$ 4 milhões. R$ 2 milhões fica com o dono do terreno, R$ 1 milhão para o fiscal da prefeitura que vai agilizar o trampo e R$ 1 milhão para nós. O terreno é ótimo. Com essa grana para o fiscal, o projeto vai rolar. Te ligo depois. Tchau!
Não fui o único que ouviu a conversa. Pelo menos mais dois colegas estavam também trocando de roupa para treinar e ouviam com cara que quem não estava prestando atenção, mas se alguém tivesse filmado a cena, veria que as caras de incômodo eram generalizadas. Bom, o sujeito desligou o telefone, acabou de trocar de roupa e foi treinar.
A primeira coisa que me veio à cabeça foi o nosso momento atual no Brasil. Corrupção que não acaba mais. Verdadeiros ladrões destruindo o patrimônio público e embolsando milhões e milhões. Políticos corruptos em todas as esferas, empresários corruptores, lobistas sem caráter e funcionários públicos usando a máquina para enriquecerem de forma ilícita. Há exceções? Claro que há, e não são poucas. Mas uma parcela significativa está fazendo farra com as inúmeras oportunidades que o Brasil oferece e gente mal caráter. Infelizmente, o nosso país é terreno fértil para safado se dar bem. Isso acontece por vários motivos, mas a raiz de tudo chama-se impunidade e todos sabemos disso. Porém existe um outro catalizador para este processo, chamado corretamente de “corrupção endêmica”, ou seja, algo que faz parte da nossa cultura e está em suas vísceras. Domina o Brasil de norte a sul. Este catalizador, na minha visão, é o exemplo que temos das nossas lideranças sendo seguido por (quase) todos. Não se abre uma página de jornal hoje sem uma notícia de alguém do alto escalão político, ou seja, as pessoas que foram escolhidas para defender o interesse público, fazendo algo errado. A quantidade de operações da polícia federal é tão grande que faltam nomes para batizá-las. Lava jato, Olho de boi, Gato de botas, Trem fantasma, Vitruviano e por aí vai.
Já tratei muito aqui da questão do exemplo que vem de cima e que contamina, para o bem ou para o mal, filhos, profissionais nas empresas e pessoas em geral. Se as palavras convencem, os exemplos arrastam. Ao vermos quem admiramos fazendo isso ou aquilo, nos inspiramos a repetir. Da mesma forma, ao vermos alguém tirando proveito próprio em situações que deveriam defender os nossos interesses, nos revoltamos e dá uma vontade enorme de fazer o mesmo. Isso é humano. Tenho certeza de que na cabeça desse sujeito da academia deve imperar o seguinte raciocínio: - Se os caras lá estão roubando a Petrobras, a grana da merenda escolar e o dinheiro da construção de escolas e hospitais, por que eu tenho que ser o único certinho trouxa? Você já ouviu isso de alguém? Eu já? O mal exemplo dá uma certa “legitimidade” para que outros façam o mesmo. O sentimento de culpa é zero.
É triste, mas o exemplo que os nossos líderes nos dão hoje são, em sua maioria, péssimos e dignos de nojo. E estes estão criando uma legião de pessoas que, com a raciocínio acima, entram na dança e aumentam ainda mais o abismo que temos entre o hoje e uma sociedade moderna e justa.
Nas empresas o filme é o mesmo. Nem sempre os líderes estão inspirando suas equipes com bons exemplos. Se você tem um único subordinado, deixo as seguintes perguntas para sua reflexão: - Que exemplos você está dando para sua equipe? Que atitudes suas estão ajudando a formar um clima de respeito, cordialidade, apoio mútuo e crescimento? Será que o seu discurso está batendo com as suas ações? Essas são boas questões para que cada um de nós, na empresa e na família, estejamos sempre atentos para não incorrermos no erro de ficarmos reclamando dos nossos políticos e cometendo o mesmo erro da demagogia e da total desconexão entre o que falamos e fazemos. Até o próximo!