“O que nos torna seres humanos melhores são as multas”
Na última aula do módulo de gestão financeira do Pós MBA que estou cursando, assistimos o documentário “Inside Job”, o qual ganhou o Oscar de melhor documentário em 2011. Um filme fantástico que explica as causas, os bastidores e o encadeamento da maior crise mundial das últimas décadas – a crise de 2008, que abalou a economia mundial, dizimou empregos e destruiu a vida de incontáveis famílias que perderam todas as suas economias e, principalmente, sua esperança no sistema financeiro. Após o final do vídeo, ainda estarrecidos com tanto absurdo e falta de controle da ganância humana, ficamos por mais de uma hora debatendo o assunto. Logo me veio à cabeça o meu primeiro texto deste espaço, quatro anos atrás, cujo título era “Ambição e ganância”. Este foi o primeiro pano de fundo que fiz questão de colocar quando iniciei a minha jornada de escrever semanalmente sobre gestão de carreira e competências. Desde de então defendo que “ambição constrói, ganância destrói”. O filme mostra isso com muita clareza.
Este documentário é uma aula, a qual recomendo a todos, sobre o que a ganância humana é capaz de fazer se não for controlada e punida. Também mostra como pessoas gananciosas consegue promover um estrago na vida de outros quando não conseguem mais ter controle sobre seus desejos e passam por cima de tudo e de todos para se darem bem.
Em outra recente aula, um colega trouxe um dado de um pesquisador que defende que 20% das pessoas são corretas e incorrompíveis, 10% são safadas e corruptas e, o mais interessante, 70% são produtos do meio. Ou seja, 70% das pessoas do mundo dançam de acordo com a música. Se foram direcionadas para o bem, farão o bem. Se forem direcionadas para o mal ou enxergarem lacunas para fazê-lo sem serem punidas, o farão sem dó. Se esta estatística for verdadeira, é de se lamentar. É mesmo triste imaginar que as pessoas não sejam genuinamente boas. Hoje acredito piamente que não são. Não creio mais em bom senso. Depois de tanta estrada, o que vejo é que as pessoas precisam de limites muito claros. Caso contrário, mais cedo ou mais tarde acabam pisando fora da linha e prejudicando outras pessoas. Sei que alguns não são assim, mas é a minoria.
Paremos para pensar friamente e relembrar alguns fatos. Na década de 1980 não era proibido fumar em nenhum local fechado, nem mesmo em aviões. Eu mesmo me lembro de uma vez (ainda criança, sofrendo de asma) que voamos com um cara fumando na cadeira do lado. Foi um horror. Hoje, quem acender um cigarro dentro de um avião vai preso. Até meados da década de 1990 não era obrigatório o uso do cinto de segurança. Hoje ninguém se imagina ligando o carro sem antes colocar o cinto. Por que? A multa. E a Lei seca? Que tal pagar R$ 2.000,00 de multa ou ir preso se acharem uma gota de álcool na sua boca? Isso sem falar dos radares eletrônicos, da lei de responsabilidade fiscal e por aí vai. Por que mudamos? Por causa das multas.
Hoje, portanto, é dia de nostalgia. Dia de relembrar a base de qualquer projeto de carreira e, por que não, qualquer projeto de vida. Precisamos ser ambiciosos e temos o direito legitimo de querer mais, mas nunca devemos cruzar a fronteira da ganância. Essa fronteira está na perda do controle sobre o que queremos. Quando tudo vira pouco. Quando nada tem mais fim. Quando o dinheiro deixa de ser meio e passa a ser fim. Quando queremos mais e mais, sem saber o porquê e a que custo. Nessa hora, ficamos cegos, desumanos e começamos a passar por cima de quem for para conseguir mais e mais. Esse é o primeiro degrau da escada do fracasso. Não existe ninguém que se deu bem seguindo este caminho. A conta chega um dia. Ela sempre chega.
Hoje concordo e defendo que o ser humano precisa de limites. Olhando para os países mais desenvolvidos e para as empresas que menos sofrem com corrupção e falhas de conduta, entendo porque as leis e normas mais rígidas promovem sociedades e empresas mais sólidas e desenvolvidas.
É, será que o que nos torna seres humanos melhores são as multas? Talvez sim. Até o próximo!