Artigo 212 – Porque os bons vão embora – parte VI

por Marcelo Veras | 04 de maio de 2015

 Contrate os melhores, mostre o norte e deixe-os livres”

  Vamos ao quinto e último pilar da atração e engajamento de bons profissionais – a Autonomia. Desde a revolução industrial, as práticas de gestão de pessoas têm uma lógica. Naquela época e até algum tempo atrás, esta lógica funcionava e não é à toa que se consolidou e persiste há séculos. Ela parte de alguns pressupostos inquestionáveis quando se fala em linha de produção e trabalhos repetitivos e algorítmicos. Nestes casos, trabalhos repetitivos, sem necessidade de inovação e cuja produtividade é determinante para que a empresa tenha bons resultados, o controle foi e continua sendo fundamental. Cartão ponto, punição pelo absenteísmo e recompensa por produtividade são a base da gestão de pessoas. É como se partíssemos do seguinte pressuposto: “O ser humano é passivo e inerte. Por definição, não quer trabalhar, portanto precisa ser controlado”.

 Há - hoje - incontáveis estudos sobre a motivação humana. A psicologia sempre foi a área que mais estudou o assunto. Agora, a neurociência entra na conversa e começa a mostrar facetas interessantíssimas sobre o nosso comportamento. O texto mais brilhante que li sobre o tema nos últimos anos chama-se ”Motivação 3.0”, de Daniel Pink. Recomendo a leitura, principalmente para profissionais de recursos humanos e empresários.

 Nas minhas equipes, mesmo antes de ter lido este estudo do Daniel Pink, eu já tinha uma premissa. Não era inconsciente, mas também não tinha embasamento científico. Eu realmente acreditava que as pessoas tinham que ter bastante autonomia. Sempre quando contratava alguém ou assumia uma equipe que já existisse, dizia claramente que acreditava nisso e que não iria me preocupar muito com o processo, e sim com o resultado. Sempre deixei claro que autonomia não significa falta de responsabilidade, muito pelo contrário. Para surpresa de alguns, em alguns momentos já disse para uma equipe inteira que, ao contrário da média, confiava em todo mundo até que me provassem o contrário. E assim toquei a minha vida profissional até hoje. Nunca me preocupei muito em criar controles e métricas a fim de tentar monitorar o trabalho das pessoas. O resultado final, para mim, sempre foi muito mais importante do que o processo.

 Hoje, analisando o nível de resultado que consegui com esta lógica e lendo os últimos estudos sobre motivação humana, tenho convicção de que o caminho é este, sobretudo em uma economia cada vez mais baseada nos serviços e na necessidade de inovação. Ao contrário da premissa já citada, que o ser humano é passivo e inerte, acredito que somos ativos e autodirigidos. Se soubermos qual é o norte a ser seguido e tivermos autonomia, trabalhamos mais felizes e produzimos mais. Isso resume este quinto pilar e é um recado claro para que todos que tenham uma equipe repensem seriamente a questão da motivação e dos controles sem sentido que colocamos nas empresas. Tem muita gente boa indo embora de algumas empresas porque se sentem gerenciados como marionetes, não possuem autonomia e ficam se sujeitando a controles que quase humilham as pessoas.

 Veja, em linhas de produção ou em trabalhos repetitivos, ainda aceito algum tipo de controle. Mas em áreas e cargos que precisem entregar resultados a partir de raciocínio, criatividade e inovação, o controle é um rinoceronte sapateando numa loja de cristais, ou seja, um convite para os bons irem embora. O cartão de ponto, então, é quase uma ofensa.

 A minha máxima hoje esta resumida na frase “Contrate os melhores, mostre o norte e deixe-os livres”. Dê-lhes autonomia em relação ao tempo e à tecnica. Esteja próximo para dar suporte, reforçar a direção a ser seguida e cobrar resultados. Os bons querem isso. As empresas que preservarem este ambiente os terá. Aquelas que ainda estiverem controlando as pessoas como em uma fábrica da revolução industrial, perderá todos. Até o próximo!

por Marcelo Veras
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