Artigo 184 – Confiabilidade sob suspeita

por Marcelo Veras | 13 de out de 2014

 “Em tempos de internet, redobre o cuidado com a sua imagem”

 Uma foto de Gisele Bundchen ao lado de uma mulher bem feia e outra de Brad Pitt ao lado de um cara bem feio. Na piada, ao lado da foto, a seguinte frase: “Irmãos gêmeos, segundo a margem de erro do Ibope”. Em outra imagem, um ator famoso de novela diz: ”Hoje é 06 de outubro, mas considerando a margem de erro do Ibope, Feliz Natal”.  Não deve parar por aí. Estes três casos chegaram ao meu facebook e whatsapp apenas em dois dias após o 1º turno das eleições presidenciais. Com certeza as piadas vão continuar, cada vez mais criativas.

 O Ibope, maior empresa privada de pesquisas da América latina e que tem mais de 70 anos de mercado, admitiu os grandes desvios das últimas pesquisas em relação aos resultados e diz que isso se deu em função do grande número de indecisos e de pessoas que, possivelmente, mudaram o voto na última hora. Mas o fato é que as piadas estão aí e duvido que as futuras pesquisas mereçam a mesmo orçamento de credibilidade que receberam até hoje. 

 Isso tudo me fez pensar um pouco sobre o “telhado de vidro” que está sobre a nossa cabeça, ainda mais nesses tempos de conectividade global e instantânea. Provavelmente, institutos já erraram bastante no passado. A diferença é que hoje uma pessoa consegue, através das redes sociais e dos aplicativos de troca de mensagem, dar uma visibilidade nunca antes vista. Em minutos, uma piada boa e engraçada é compartilhada por milhões de pessoas e vista por outros milhões. Este poder de expor o que se quer é, ao mesmo tempo, muito positivo e muito perigoso. Interessante, porque as pessoas conseguem sair do anonimato ou lançar ideias e produtos em um tempo muito curto. Coisas boas, se caírem na net, podem conquistar o mundo. Entretanto, coisas ruins também podem ter uma vitrine enorme e promover um belo estrago na imagem de uma empresa ou de uma pessoa. No caso do Ibope, caiu na rede e na graça do povo. Agora não tem mais o que fazer. Garanto que vão pintar mais uma dezena de imagens com piadas do tipo, até porque brasileiro, no quesito piada, é muito competitivo. Cada um vai querer superar o outro e tentar achar uma mais engraçada para usar este fato ligado ao Ibope. Os profissionais que trabalham no Ibope devem estar muito chateados com isso tudo.

 E o que isso tem a ver com a sua carreira? Tudo. Mais uma vez, como tenho batido sempre na tecla: a nossa imagem profissional é um dos nossos maiores ativos. Imagem se constrói com competências e resultados. Posturas diárias, durante muito tempo, edificam a nossa imagem perante os outros e o mercado. Isso leva tempo, exige esforço, concentração e dedicação. Mas hoje, como nunca antes, tudo pode ruir em questões de minutos. Basta um deslize grave e a imagem de um profissional pode virar pó. O motivo é o mesmo que o que hoje martela os pilares da credibilidade do Ibope – a visibilidade que isso pode ter e o número de pessoas que podem ficar sabendo. A diferença entre um deslize no passado e um deslize hoje é uma só – a queda é a mesma, mas o barulho é maior. Hoje muita gente pode ficar sabendo rapidamente. 

 Este “simples” fato nos manda um recado muito claro e direto: Redobre os cuidados com a sua imagem. Não se exponha de forma exagerada. Fique mais atento às suas atitudes no ambiente de trabalho e na vida pessoal. Procure respeitar as regras nos ambientes aos quais frequenta. Não faça piadas ou comentários preconceituosos sobre religiões, culturas, orientações sexuais etc. Não poste fotos comprometedoras em redes sociais. Não grave ou fotografe momentos da sua vida pessoal que possam comprometer a sua imagem profissional. Se você fizer uma das coisas acima e, por uma infelicidade do destino, cair nas mãos erradas (ou nos olhos errados), o estrago estará feito. 

 Este é o século XXI. Cheio de oportunidades e cheio de ameaças. Aproveite as ondas que estão aí para surfar, mas fique atento para não ser pego de surpresa e se afogar. Até o próximo!

por Marcelo Veras
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