“Quem é bom faz mais e fala menos”
Há duas semanas assisti uma palestra do professor Mário Sérgio Cortella. Eu o conheci há vinte anos, quando era trainee em uma empresa que o contratou para uma palestra durante a nossa primeira semana de treinamento. Depois de vinte anos, tive o prazer de ouvi-lo de novo. Levei meu tablet e anotei algumas de suas frases. O tema era “Ética e vergonha na cara”, título do seu último livro. Da sua fala, a frase que mais gostei e que serviu de motivação para este artigo foi a seguinte: “Quem é grande, sabe que é pequeno e por isso cresce. Quem é pequeno, acha que é grande e por isso precisa diminuir os outros para crescer”. Leia três vezes e reflita um pouco. Na mesma hora que ouvi, várias pessoas me vieram à cabeça. Pessoas “grandes” e pessoas “pequenas”. Tenho certeza que o mesmo deve estar acontecendo com você neste momento.
Ao longo da minha carreira e desses últimos 25 anos de estrada profissional conheci muita gente. Muitos amigos, alguns inimigos e muitas, muitas histórias. Conheci muita gente do bem, muita gente do mal, muita gente competente e muita gente incompetente. Coincidência ou não (acho que não), os piores profissionais e as piores pessoas que conheci tinham um hábito em comum – o de falar bem de si próprias. Na maioria dos casos, elas se referiam sempre a conquistas do passado usando a primeira pessoa do singular. “Eu fiz”, “Eu consegui”, “Eu realizei”. Raramente, mesmo em casos de projetos que claramente foram desenvolvidos em equipe, usam um “nós fizemos”. Este perfil, quando fala do presente, também se coloca acima de tudo. Segue usando primeira pessoa do singular e sempre se colocando como o (único) pilar de um projeto, de uma área ou de uma empresa. Vaidade? Narcisismo? Medo? Insegurança? Não sei. O que sei é que esta espécie faz um mal danado a uma equipe e a uma empresa. Quando assume uma posição de liderança, então, salve-se quem puder. Não delega, não confia, não desenvolve pessoas, não dá feedback, não da crédito a quem merece e por aí vai. A lista de atitudes neste caminho é bem maior. Ah, e esqueci-me de uma coisa bem importante: Se acham insubstituíveis.
Por outro lado, os melhores profissionais que conheci também tinham um hábito – falam pouco e fazem muito. Esta outra espécie sempre se coloca como parte de uma conquista, nunca como o único responsável. Não se acham grandes, insubstituíveis e, muito menos, brilhantes. Como diz Cortella, “sabem que são pequenos e por isso crescem”. Quando líderes de equipes, delegam, formam, compartilham conhecimento, ajudam, cobram resultados e premiam o mérito, não dão ouvidos para fofocas e se cercam sempre dos melhores. Enfim, produzem resultados para si, para a empresa e para as pessoas.
Tenho sido um crítico feroz de empresas que permitem que pessoas da primeira espécie cresçam na hierarquia. Essas pessoas deviam ser demitidas, não promovidas. Mas por alguma razão este perfil anda povoando alguns cargos importantes em algumas empresas. Sei que, em alguns casos, as pessoas se transformam nisso após assumirem o poder. Tem até um ditado que diz: “Quer conhecer alguém, dê-lhe poder”. De fato alguns se transformam, mas creio que este traço de personalidade pode ser notado bem antes disso.
Quando você for contratar um profissional, fique muito atento a este perfil. Muito cuidado ao contratar alguém que usa muito a primeira pessoa do singular e que se autoelogia muito. Muito cuidado...
E se, infelizmente, você tiver um chefe que sofra dessa “doença”, lamento informar que você está com sérios problemas. Dependendo do caso, vá buscar outro ambiente onde este mal não exista ou esteja mais sob controle. Até o próximo!